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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Manifesto contra as Agendas


Amados,

Segue abaixo um texto que escrevi há alguns anos atrás e que foi publicado pela revista "Entre nós" do Pr. Ariovaldo Ramos. É um desabafo mas que faz a gente pensar muito em atitudes que muitas vezes nós mesmos tomamos. Leia e reflita. Caso queira entrar no link da revista acesse:
http://www2.uol.com.br/bibliaworld/entrenos/boca2.htm

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MANIFESTO CONTRA AS AGENDAS

Há muito tempo atrás ela surgiu e desde então tem sido de grande utilidade para o homem. Atualmente já é feita de muitos tipos: grande, pequena, média, quadrada, redonda. Também para os mais diversos tipos de pessoas: advogados, empresários, comerciantes, políticos, secretárias, donas de casa, estudantes e etc. Segundo o dicionário, é o "Livrinho onde se escreve dia a dia o que se tem que fazer". Hoje existe até a versão eletrônica, inclusive de bolso, para levar onde quiser. No início e fim de todos os anos é o presente mais dado e recebido de todos: A Agenda.

Em nosso meio evangélico ela é muito importante. Precisamos dela para anotar os diversos tipos de cultos, eventos e festividades que temos todos os finais de semana. Quantos congressos, encontros e seminários temos anotados em nossas agendas ? Poderíamos recontar vidas inteiras de muitas pessoas apenas consultando suas agendas. Ela se torna ainda mais imprescindível para aqueles pastores ou líderes muito solicitados. Para se marcar uma data com eles, é necessário muita antecedência. Muitos nomes só podem ser cogitados com 2 anos de antecedência !Voltemos nossos olhos para as estradas empoeiradas da palestina. É óbvio dizer que Jesus não tinha agenda, mas ele não agia em nada igual aos líderes evangélicos que como ele, hoje arrebanham multidões por onde passam. Muitos gostam do público e não das pessoas. Outros já são chamados de "artistas evangélicos" e fazem "shows" por todo o país e exterior.Engraçado... eu não vejo nada parecido nas páginas das Sagradas Escrituras. Pelo contrário, vejo Jesus atendendo a todos os que se achegam a ele, curando, salvando, libertando e pregando o evangelho do mesmo modo para uma ou milhares de pessoas, enquanto que alguns pastores, ao término da pregação saem pela famosa porta dos fundos, para evitar o "assédio". Vejo Jesus não tendo onde reclinar a cabeça, ao passo em que muitos estão exigindo quartos em hotéis cinco estrelas. Vejo Jesus comendo o que lhe é dado e muitas vezes nem querer comer, pois a comida verdadeira para ele era fazer a vontade do Pai, enquanto que outros só se satisfazem com banquetes ou valores "mínimos" para refeição. Vejo Jesus pedindo apenas um barquinho para que, se afastando um pouco, poder pregar melhor à multidão que o comprimia, enquanto que muitos líderes de louvor exigindo até a marca do pedestal do microfone que vão cantar (cantar mesmo e não louvar, se é que estou me fazendo entender).Vejo Jesus com um chicote expulsando os vendedores da casa de seu Pai, que deveria ser unicamente uma casa de oração, enquanto que muitos pastores gastam mais tempo fazendo propaganda de seus produtos, inclusive na TV, do que pregando a palavra ou orando pelas pessoas.

Claro que preciso ressaltar as necessárias exceções, de muitos servos e servas de Deus que apesar de terem agendas apertadas, se esforçam para atender a muitos convites que lhe são feitos. Mas volto a afirmar, infelizmente são exceções. A maioria esmagadora de pastores, ministros de louvor, bandas e corais gospel, atendem os convites do modo como lhe apraz, nem sempre ético ou justo, muitas vezes atendendo o convite onde comparecerão mais pessoas, em nome de uma maior divulgação de seu trabalho !?!?!?

Amados, não sou tão velho ou careta como alguns leitores já devem estar pensando. Também sou pastor e já tive problemas com minha agenda, apesar de não ser tão solicitado como muitos colegas meus são. Mas há muito tempo que estou para escrever sobre isso e um acontecimento em especial foi a gota d'água para eu me assentar em meu computador e escrever estas linhas deixando aqui meu manifesto, na verdade contra os donos de agendas inalcançáveis.Meu intuito, amados irmãos e colegas de ministério, é chamar a nossa atenção para o cuidado em especial da ética pastoral. É muito importante cumprirmos a nossa palavra em nossos compromissos. Isso já começa naquela velha resposta que damos, quando alguém pede para orarmos por determinada situação em sua vida: "Pode deixar irmão, que eu estarei orando". Será que lembramos pelo menos do nome da pessoa que pediu aquela oração ? Ou nem lembramos o lugar onde aconteceu ? A verdade é que não lembramos e não oramos, só queremos nos livrar da pessoa naquele momento. Se isso acontece em sua vida, amado pastor, atrevo-me a perguntar: Será que também não acontece com sua agenda de compromissos ?É claro que temos muitos pastores e líderes com muito prestígio em nosso meio, não só pelo que já fizeram pela igreja, pioneiros em suas áreas, mas também pelo que são como pessoas. Mas isso lhes dá o direito de marcarem uma data, ou um compromisso com alguém e simplesmente não aparecerem ? Ou então ligarem na última hora dizendo que não será possível ir, deixando pessoas à sua espera com um abacaxi na mão ?

E o que não dizer de muitos que só agendam datas com uma porcentagem do "cachê" depositado em suas contas, para evitar confusão é claro ? Minhas sinceras desculpas a muitos irmãos que tomaram calotes de pastores ou pessoas, mas daí estabelecer-se uma lei do "pé atrás" não é ir longe demais ? Será que não estamos exagerando ? Infelizmente muitos lugares são abertos com o nome de igreja, mas na verdade são pardieiros, covis de gananciosos, só interessados no dinheiro fácil e limpo que entra de oferta. Contra esses dou todo meu apoio e restrições. Mas em nossa maioria evangélica, que promove eventos sérios, que compram até briga para fazer um evento, que querem ver o crescimento espiritual de suas ovelhas, existem líderes, pastores e pastoras honrados, que merecem muito mais atenção do que simplesmente uma anotação em nossa agenda.Também dou todo meu apoio aos pastores e líderes, principalmente de louvor, que priorizam suas igrejas e só saem para um compromisso debaixo da cobertura e orientação espiritual de seus pastores. Mas ao se marcar uma data, deve se cumprir ou fazer de tudo para remarcar em uma outra data, havendo a impossibilidade do cumprimento na primeira data marcada. Os pastores que comandam as agendas e não as agendas que comandam os pastores. O que mais ouço é: "Desculpe irmão, é que já estava marcado em minha agenda" ou então "humm... minha agenda está me impossibilitando de ir".

Talvez este manifesto seja mais um desabafo.... talvez eu quis que parecesse assim. Mas que isso sirva de alerta para todos nós. Inclusive para mim. Não sei se amanhã ou depois também não vou ter uma secretária e uma agenda e estarei falando e dando as mesmas desculpas das quais estou escrevendo contra agora.... Que eu e você possamos aprender com o carpinteiro humilde, que de Belém veio, priorizando as pessoas, amando as pessoas, salvando e curando as pessoas, e ganhou o mundo, ganhou a vitória e ganhou as nossas vidas. Mas nunca ganhou de presente uma agenda. (E creio que ele nem gostaria de uma !!) 

sábado, 9 de abril de 2011

Meus Contos - Jesus Multiplicou meu lanche

Um conto escrito por Leandro Silva.


            Acordei aquele dia elétrico. Não sei porquê. Uma mistura de ansiedade com vontade de correr o mais rápido que eu pudesse para estar ali com ele.
            - Jacó meu filho, venha tomar café direito ! – minha mãe gritou comigo, pois eu já estava arrumando minhas coisas e me aprontando para sair.
            - Não dá tempo mãe, ele vai passar por aqui daqui a pouco e se eu perco pra onde ele vai não consigo mais alcançá-lo por causa da multidão.
            - Mas menino, assim você não vai crescer forte e saudável como seu irmão Asafe. Você está tão mirradinho, precisa se alimentar direito !
            Nossa família tinha um orgulho, quase uma tradição de que todos os filhos homens eram bem fortes e avantajados. Meu pai se orgulhava em dizer para todos da sinagoga, que seu filho Asafe era um dos mais fortes da família, que agüentava o tranco do serviço que lhe davam facilmente. Nunca reclamava de nada. E eu, um tanto quanto pequeno e franzino, era considerado o mais sensível, intelectual. Na verdade um outro jeito de me chamar de frouxo mesmo, porque para meu pai, homem que é homem tem que ser grosso e desajeitado.
            Minha mãe, como toda mãe judia, era superprotetora e não me deixava em paz por um segundo. Acho que se apegou a minha por esta questão de ser mais sensível. Como mulher e também desprezada por todos, acaba sentindo na pele o mesmo preconceito que eu e assim se identifica comigo. Eu a amo, mas tem horas que ela me deixa louco !!
            - Leva um casaco meu filho. E olha, toma aqui um lanche pra você comer mais tarde. Esses pregadores do deserto falam tanto que chega uma hora que você tem que se alimentar né ?
            - Tá bom mãe – respondi inquieto e com a mochila nas costas, sendo fechada após colocar o lanche preparado por ela.
            - E cuidado no deserto hein ? Não fique muito longe do povo, cuidado com este solão na cabeça e qualquer problema você vem pra casa correndo, tá bom meu pequerrucho ?
            Este apelido que ela me colocou eu odiava ! Mas resolvi não ralhar com ela pra que ela me liberasse logo.
-         Tá bom mãe, posso ir agora ?
-         Pode, dá um beijo na mamãe.
-         Smack ! E saí correndo, porque já avistava a multidão
passando na rua de trás e pelo número de pessoas, hoje a pregação ia ser longa.
            Andamos por mais de uma hora. Naquela multidão se via de tudo. Homens com seus burros de carga lotados e com a família; mulheres grávidas com crianças a tiracolo chorando por causa do sol e do cansaço; idosos se arrastando um entre o outro; crianças correndo e gritando fazendo aquela algazarra; Muitos, mas muitos casais e famílias juntos, seguindo aquele caminho como se fosse uma procissão do dia da expiação.
            Na frente estava ele e seus discípulos. Quando penso que eram homens que deixaram tudo para segui-lo, abandonaram suas próprias vidas e famílias para seguirem uma pessoa ! Eu tinha uma grande vontade de ser um discípulo e estar junto com eles. Mas minha mãe tinha me proibido porque me achava muito novo e tinha medo dos perigos que eles enfrentam, e que eu precisava era ajudar meu pai na loja.
            Como é que pode sair tanta coisa de uma cabeça só ? Da onde ele tira tanta sabedoria e coisas bonitas ? Da última vez que eu assisti ele falando, estávamos ao pé de um monte e ele falou sobre ser bem aventurado, ser pacificador, ser humilde. Todos ficam de boca aberta e dá pra você ouvir um passarinho cantando lá longe quando ele está ensinando. Todo mundo presta atenção e ninguém dá um pio.
            Chegamos ao lugar. Ele escolheu um local onde tinha uma relva verde, rala mais boa pra sentar e se acomodar. Todo mundo foi se sentando, se acomodando em silêncio.
            - Porque o reino de Deus é semelhante a uma mulher que tendo perdido uma dracma, varreu diligentemente a casa até encontrar. E quando a encontrou, correu para sua amigas e vizinhas e disse: “Vinde, festejemos juntas porque tinha perdido a dracma e agora a achei.”
            Naquela hora, avistei um monte de mulheres dando risada, sozinhas. Outras comentando umas com as outras algo mais ou menos como que aquilo que estavam ouvindo já tinha acontecido com elas e como era maravilhoso ouvir alguém que sabia exatamente do cotidiano delas, principalmente um homem.
            A pregação continuou durante mais algum tempo. Minha barriga começou a roncar. Já tinha saído de casa há 4 horas e meia e a última coisa que tinha colocado na boca foi o café que engoli antes de sair de casa. O sol já começava a se pôr e todos começaram a se inquietar. O burburinho aumentava e todos se preocupavam com o quê iam comer, que horas iam voltar pra casa, o que iam fazer anoitecesse antes de chegarem em casa. O choro de algumas crianças aumentava e alguns homens começavam a ficar impacientes.
            De repente o mestre parou de falar. Eu estava meio longe e não ouvia exatamente o que ele dizia. Mas o pessoal ia passando de boca em boca o que ele dizia até que chegava em quem estava mais atrás. De vez em quando o vento trazia algumas palavras dele e podíamos ouvir a voz doce mas poderosa dele.
            Mas agora ele estava falando com seus discípulos, orientando e gesticulando e apontava para a multidão. Eu pensei que era uma boa hora para pegar o lanche que tinha trazido, preparado pela minha mãe e devorar. A barriga já estava comendo as paredes do meu estômago !
            Mamãe colocara cinco pães e dois peixinhos na minha mochila. Um lanche e tanto. Olhei algumas mães ao redor e as crianças com aqueles olhinhos pedintes que não tinha como não perceber. Pensei em repartir meu lanche com algumas pessoas. Lógico que não ia dar pra todo mundo mas pelo menos poderia dividir e ajudar algumas pessoas.
            Quando estava para repartir em partes iguais os pães, reparei uns passos largos, mas firmes atrás de mim. Ao levantar os olhos surgiram dois dos discípulos do mestre na minha frente. Reconheci pelas roupas e sandálias iguais as do mestre que usavam. Um deles tocou em minha mão e disse:
-         Rapaz, o que você tem aí escondido ?
-         É meu lanche, moço. Minha mãe fez pra mim
-         O mestre precisa deste lanche para alimentar a multidão – disse o outro.
-         Mas como meu lanche vai poder alimentar toda esta gente?
-         Meu filho, eu não sei, mas se o mestre disse pra gente conseguir comida e levar pra ele, é o que vamos fazer. Precisamos de seu lanche – e já foi pegando um dos peixes que eu tinha trazido.
-         Opa, opa... peraí. Se o mestre precisa do meu lanche, eu posso dar sim. Mas quero ir pessoalmente entrega-lo – eu não ia perder a oportunidade de conhecer o mestre pessoalmente. O mais perto que cheguei dele foi quando tinha expulsado um espírito maligno de um menino que estava se batendo tanto que foi bater na porta da minha casa. Quando abri, lá estava o mestre levantando a mão e libertando o menino. Agora aquela era a minha chance de poder chegar perto dele.
-         Mas que menino folgado. Olha aqui rapaz, você não sabe o problemão que temos pra resolver aqui ? E agora você fica...
-         Calma Pedro, calma – disse o outro para o discípulo mais nervoso que estava com uma cara que denunciava sua vontade de me dar um cascudo e tomar meu lanche.
-         Tudo bem menino, vamos lá.
Começamos a andar, eles na frente e eu atrás, ajeitando os pães e peixes na minha mochila. Nos aproximamos dos outros discípulos e todos me entreolharam com uma cara de espanto e expectativa. No centro de todos eles, sentando em uma pedra, estava o mestre.
Não sei dizer o que senti ao vê-lo mais uma vez. Mas agora, ele olhou diretamente pra mim. Fixou seus olhos nos meus e um frio percorreu a minha espinha. Mas eu não estava com medo. Era um sentimento de temor, algo muito mais forte do que eu sentia quando sabia que meu pai estava com a vara na mão para me corrigir.
-         Rapaz, você vai compartilhar com toda essa gente o lanche que sua mãe fez com todo carinho para você? – o mestre falou olhando sempre nos meus olhos.
-         Mestre, se o senhor precisa dele, com todo o prazer eu cedo para o senhor.
-         Obrigado meu filho.
-         Mas mestre, o que são cinco pães e dois peixinhos para toda essa gente?
-         Foi o que nós já dissemos a ele rapaz – disse Pedro, que identifiquei pela fala rude e ríspida e que tinha me ameaçado antes.
O mestre acenou com a mão, fazendo um gesto para Pedro não falar mais. Se levantou e chegou bem perto de mim. Estendeu as mãos e tomou meu lanche, dizendo:
-         Jacó, não se preocupe com isso. A parte de vocês já foi feita. Agora está nas mãos de meu pai.
Como ele sabia meu nome ? Eu não tinha falado nada. Nem os discípulos sabiam. Quem é este que sabe todas estas coisas ?
Senti que os discípulos queriam que eu fosse embora. Começaram a me empurrar mais pra trás e dando sinal de que eu já tinha feito o que queria e agora precisa deixar o mestre em paz. Mas tudo isso foi interrompido pelas palavras do mestre. Ele levantou um pão e um peixe bem alto com as mãos e orou:
- Bendito és tu, Senhor Deus, rei do universo. Que nos fornece o alimento para suprir nossas necessidades.
Olhei para o povo. A multidão estava como que hipnotizada, olhando para ele, mas com uma cara de que algo novo estava para acontecer, como se já soubessem quando o mestre ia fazer algo extraordinário.
O mestre solicitou que a multidão toda se assentasse em grupos, para facilitar a distribuição. Depois pediu para cada um dos discípulos que pegasse um cesto grande, e colocou um pedaço de pão ou peixe em cada um destes cestos e mandou que eles distribuíssem.
Vi a cara deles ao pegarem os cestos e se dirigir à multidão. Era uma cara assim de que estavam fazendo algo inútil, porque além do pedaço que levavam em cada cesto ser insuficiente, ainda poderia dar em confusão, porque uma multidão faminta pode ficar fora de controle. Eu então, tinha um sentimento de incapacidade e impotência, sem poder fazer muita coisa.
Mas o mestre estava com uma cara ótima. Parecia que via um anjo. Olhava satisfeito para a multidão como que antevendo o que estava para acontecer.
De repente, começaram os risos. Sorrisos e gargalhadas se espalhavam por todo o vale onde estávamos assentados. Não havia empurra-empurra e nem discussão. Nenhuma confusão e nem gritaria. Achei impossível. Como pode uma multidão faminta estar satisfeita com algumas migalhas de comida ?
Corri em direção de um dos discípulos. Ele tinha largado o cesto no chão e estava com as mãos na cabeça maravilhado e sorrindo um sorriso tão grande que era quase de orelha a orelha. As pessoas em volta colocavam a mão e tiravam um pão e um peixe, inteiros, de dentro do cesto. Cheguei mais próximo e olhei dentro do cesto:
- Incrível. Não é possível ! Como pode isto acontecer ? É um milagre !!
O cesto estava cheio de pães e peixes! Quase até a boca ! E não importava o quanto tiravam do cesto, os pães e peixes não acabavam. Olhei para os outros cestos e todos estavam da mesma forma. Os discípulos, todos atônitos, uns distribuíam dando risada, outros choravam. Um tinha desmaiado e outro gritava:
- É ele! É o profeta que Moisés disse que viria! É ele ! Yeshua Hamashia ! Multiplicou os pães como na época de Elias ! É ele, É ele !
Aproveitei e meti a mão no cesto e peguei logo dois pães e três peixes. Comi gostoso como se fosse um rei em seu palácio, comendo um banquete com seus súditos. Minha alegria só era superada pelas crianças que além de comerem mais do que eu e mais rápido, ainda ficavam fazendo guerrinha de miolo de pão uns contra os outros, aos berros de protesto de suas mães, é claro.
O tempo passou rapidamente depois disto. As pessoas pegavam o alimento e iam embora. Depois de uma hora, praticamente todas as pessoas já estavam longe no horizonte, e os doze carregavam os cestos e arrastavam para junto do mestre. Um detalhe: todos os doze cestos ainda estavam cheios, mesmo após o ataque ávido de uma multidão de mais de cinco mil pessoas, no mínimo. Mas eu continuava comendo. O peixinho tava uma delícia.
O sentimento em meu coração mudou totalmente. Enquanto me afastava, indo pra casa, tentava digerir, além da montanha de pão e peixe que comi, o fato histórico que eu presenciei. Algo que eu nunca mais esqueci na vida. Enquanto arrotava, ia pensando se algum dia iria ver novamente o mestre.
Ao chegar em casa, minha mãe já preocupadíssima, ralhou comigo:
-         Jacó, até que enfim ! Isto são horas de chegar ? Já está quase na hora do jantar.
-         Tá bom mãe. Só vou tomar um banho. O que tem para o jantar ?
-         Meu filho, hoje tive que improvisar. Só tem pão e peixe.
-         Cataplaf !!
-         Filho, filho ? Jacó ? O que aconteceu ? Você escorregou ? Jacóóóóó.....

sábado, 2 de abril de 2011

Avivamento e os odres velhos

O avivamento é uma esperança de todos nós, que mais parece uma utopia. Conversando com o Rabino messiânico Marcos Andrade Abrão, autor do livro “Filho de Elohim”, chegamos juntos a seguinte declaração: “Nem Israel, nem a Igreja estão preparados para o avivamento”.

Particularmente entendo o seguinte: O primeiro deverá passar por uma grave crise, antes de olhar para aquele a quem traspassaram, e isto ocorrerá somente depois de terem sido enganados pelo anticristo, o falso messias, que firmará com eles uma falsa aliança. A Igreja, por sua vez, montou uma estrutura incapaz de conter um movimento nesta proporção. Hoje, ela não passa de um odre que romperia ao tentar conter um conteúdo de natureza incompatível com a sua atual formulação.

Como resultado deste avivamento, milhões de pessoas em todo o mundo seriam impactadas e procurariam abrigo para a sua fé em alguma estrutura religiosa. Isto forneceria uma incrível oportunidade para as aves de rapina que construíram ninhos nos ramos desta grande árvore na qual a Igreja se transformou. Executivos da fé ligariam imediatamente suas planilhas para calcular o retorno financeiro e acionariam sua equipe de marketing para montar estratégias para tirar deste mover o máximo possível. Em suma, se o Espírito Santo soprasse um movimento desta envergadura sobre a Igreja, estaria dando um tiro em seu próprio pé.

Um dos livros mais esclarecedores sobre avivamento, que eu já li, foi “Help! I Need Somebody”, de Walter Heidenreich, que relata um mover de Deus em meio à comunidade Hippye à qual pertencia nos idos dos anos 60. Era um grupo realmente diferente de todos, que seriam recebidos com surpresa pelos diáconos mais compreensivos escalados como recepcionistas. Imagine deparar-se com um grupo de cerca cem pessoas sujas, fedorentas e de postura incomum tentando entrar naquelas tradicionais igrejas européias em busca de ensinamento que fortalecesse a sua fé. Muitos chegaram a chamar a polícia, pensando se tratar de um arrastão. O movimento se esvaiu com o tempo, pois foi repelido por uma igreja que não estava preparada para ele.

Pude sentir isso na própria pele enquanto pastoreava uma igreja em São Paulo que começou a ser freqüentada por moradores de rua. O pessoal usava nossos banheiros para cortar o cabelo, catar piolhos, tratar feridas e dar banho naquela turma com escova e sabão. Os diáconos torciam o nariz, questionavam o valor do trabalho e procuravam razões para acabar com aquilo. O motivo alegado era que o banheiro seria usado no domingo por pessoas limpas. Mesmo alegando que tudo estaria limpo e desinfetado para os dias de reunião, os ataques dos obreiros se tornavam cada vez mais violentos e desleais. A minha igreja lutava contra o evangelismo dos excluídos. Um verdadeiro banho de água fria no avivamento.

Um dia destes fui pregar em uma igreja tradicional de uma cidade da Grande São Paulo e fui abordado por um grupo de diáconos daquela Igreja que estava preocupado com o fato do seu pastor alimentar a idéia esquisita de implantar ações evangelísticas em torno de pessoas excluídas.

- O que o senhor acha de um absurdo destes pastor Ubirajara?
- Acho realmente um absurdo, respondi. Se depender de vocês, vai todo mundo para o inferno. Sua escolha pelos engravatados e pelas cheirosas é um simplesmente inconcebível.

Será que ainda construremos uma estrutura eclesiástica capaz de conter este vinho?


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Fonte: Sob Nova Direção. Dica de Daniel Liuzzi (danielliuzzi@hotmail.com)

(*) Título Original: Avivamento: Será que estamos chegando lá?