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sexta-feira, 11 de agosto de 2017




A  amnésia seletista (ou seria hedonista?)

            Estive alheio a toda essa discussão que se deu nas redes sociais, por pura falta de tempo. Apesar disso, agora que deu um tempinho comecei a ler os comentários, posts e notícias que se seguem ainda hoje. Posso resumir que na maioria dos casos, só há 2 posições. A posição daqueles que condenam o acontecido e julgam sem dó e piedade, sem demonstrar nenhuma misericórdia; e a posição daqueles que dizem que não se deve julgar, todos nós pecamos e não podemos atirar nenhuma pedra. Segue-se artigos de misericórdia e testemunhos sobre como a igreja é cruel e não sabe tratar estes assuntos e blá blá blá.
            Não quero parecer o dono da verdade, pois não sou nem pretendo ser. Mas penso que este acontecimento traz à tona uma questão que sempre esteve lá no fundo. Uma base da nossa fé que aos poucos se foi perdendo e agora parece que está totalmente esquecida: A RENÚNCIA. Jesus disse:
Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24
            O texto é bem claro. Jesus afirma que deseja ter discípulos, pessoas que o acompanhem. Mas para isso ele coloca requisitos, para não dizer exigências. Uma delas é NEGAR-SE si mesmo, ou seja, renunciar nossos desejos, vontades e prazeres para nos dedicar a fazer a vontade dEle. Esta é a nossa essência. O verdadeiro significado de ser cristão. Por isso ele continua dizendo que quem faz isso, deve TOMAR a sua cruz e seguí-lo. Se somos cristãos, duas coisas devem fazer parte constante da nossa vida: Renúncia e dificuldades.
            Antes que alguém comece a me julgar e achar que estou pregando um evangelho de derrota ou pessimismo, é melhor esperar um pouco. Sabemos que a palavra “Cristão” significa “pequeno cristo, semelhante a cristo”. Logo, se somos cristãos somos semelhantes a ele em tudo o que viveu. Esta deve ser a prática e busca de nossas vidas.
            Apesar de Deus nos abençoar, nos prosperar e desejar nossa felicidade, isto não significa que essas coisas devam ser o único propósito de nossa vida. Buscar felicidade não é o propósito de Deus para o crente. Mas sim buscar realizar a vontade dEle, que é boa, perfeita e agradável, assim vamos ser felizes, pois sabemos que Deus tem o melhor para nós.
            Dito isso, é preciso afirmar também que é óbvio que a vida não é um mar de rosas. Existem dificuldades. Temos limites. Pecamos e erramos. Mas nada disso pode ofuscar a vontade de Deus para nós. Ou seja, a renúncia é a tônica nesta relação divino-humana. Mesmo que doa, mesmo que haja perda, mesmo que haja tristeza. O problema é que só vemos a mão de Deus quando ele nos dá, semelhante aos discípulos de Emaús que só perceberam que o homem ao seu lado era Jesus só quando ele partiu o pão e os deu.
            Então é preciso dizer ainda que se a renúncia é a base da vida cristã, o cônjuge cristão mesmo que esteja decidido em se separar, não fará. O cristão que está depressivo, mesmo que esteja desanimado e não queira mais viver, se levantará mais uma vez. O indivíduo que uma vez foi alcóolatra, mesmo que esteja doido para tomar um gole, não tomará. O ex-viciado ou o abstinente, que esteja sentindo tonturas de vontade de fumar um baseado ou se drogar, não o fará. A pessoa com pensamentos suicidas, com todas suas razões e pensamentos para tirar sua vida, dirá não pela milésima vez e continuará vivo. Tudo isso porque? POR AMOR A CRISTO!!! Se essa é a cruz de alguns de nós, carreguemos e sigamos em frente, pois Jesus não prometeu facilidades nesta terra. Ele nos prometeu o Paraíso no Céu.
            Será que não é exatamente isso que está acontecendo conosco? Não é uma questão de julgar ou não julgar. Ser misericordioso ou não ser. A questão é que sofremos dessa amnésia hedonista, e só fazemos aquilo de que gostamos, que nos dá prazer e nos faz felizes. Essa amnésia nos fez esquecer que somos cristãos e que devemos renunciar. Essa amnésia nos diz que somos um homem/mulher que tem o direito de ser feliz no casamento, então posso me separar se não estou contente. Estou sofrendo e tenho direito de ficar na cama. Estou com vontade de tomar um gole ou me drogar, então vou fazer só para relaxar. Tenho vontade de me matar, então é isso que devo fazer. E ninguém tem nada com isso. Será? Até quando?
            Que busquemos tomar o remédio certo para nos curarmos dessa amnésia hedonista e voltarmos a ser cristãos, a viver os primeiros dias, o primeiro amor. Como todos, eu também tenho meus erros e falhas e também sofro dessa amnésia. O que talvez esteja acontecendo comigo agora é que estou admitindo que sofro disso também e abandonei esta eterna polarização entre julgamento e misericórdia. Você admite?
Encerro com as palavras do apóstolo para seu pupilo:

Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Tito 2:11 a 13