A amnésia seletista (ou seria hedonista?)
Estive
alheio a toda essa discussão que se deu nas redes sociais, por pura falta de
tempo. Apesar disso, agora que deu um tempinho comecei a ler os comentários,
posts e notícias que se seguem ainda hoje. Posso resumir que na maioria dos
casos, só há 2 posições. A posição daqueles que condenam o acontecido e julgam
sem dó e piedade, sem demonstrar nenhuma misericórdia; e a posição daqueles que
dizem que não se deve julgar, todos nós pecamos e não podemos atirar nenhuma
pedra. Segue-se artigos de misericórdia e testemunhos sobre como a igreja é
cruel e não sabe tratar estes assuntos e blá blá blá.
Não
quero parecer o dono da verdade, pois não sou nem pretendo ser. Mas penso que
este acontecimento traz à tona uma questão que sempre esteve lá no fundo. Uma
base da nossa fé que aos poucos se foi perdendo e agora parece que está
totalmente esquecida: A RENÚNCIA. Jesus disse:
“Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser
acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Mateus 16:24
O
texto é bem claro. Jesus afirma que deseja ter discípulos, pessoas que o
acompanhem. Mas para isso ele coloca requisitos, para não dizer exigências. Uma
delas é NEGAR-SE si mesmo, ou seja, renunciar nossos desejos, vontades e
prazeres para nos dedicar a fazer a vontade dEle. Esta é a nossa essência. O
verdadeiro significado de ser cristão. Por isso ele continua dizendo que quem
faz isso, deve TOMAR a sua cruz e seguí-lo. Se somos cristãos, duas coisas
devem fazer parte constante da nossa vida: Renúncia e dificuldades.
Antes
que alguém comece a me julgar e achar que estou pregando um evangelho de
derrota ou pessimismo, é melhor esperar um pouco. Sabemos que a palavra “Cristão”
significa “pequeno cristo, semelhante a cristo”. Logo, se somos cristãos somos
semelhantes a ele em tudo o que viveu. Esta deve ser a prática e busca de
nossas vidas.
Apesar
de Deus nos abençoar, nos prosperar e desejar nossa felicidade, isto não
significa que essas coisas devam ser o único propósito de nossa vida. Buscar
felicidade não é o propósito de Deus para o crente. Mas sim buscar realizar a
vontade dEle, que é boa, perfeita e agradável, assim vamos ser felizes, pois
sabemos que Deus tem o melhor para nós.
Dito
isso, é preciso afirmar também que é óbvio que a vida não é um mar de rosas.
Existem dificuldades. Temos limites. Pecamos e erramos. Mas nada disso pode
ofuscar a vontade de Deus para nós. Ou seja, a renúncia é a tônica nesta
relação divino-humana. Mesmo que doa, mesmo que haja perda, mesmo que haja
tristeza. O problema é que só vemos a mão de Deus quando ele nos dá, semelhante
aos discípulos de Emaús que só perceberam que o homem ao seu lado era Jesus só
quando ele partiu o pão e os deu.
Então
é preciso dizer ainda que se a renúncia é a base da vida cristã, o cônjuge
cristão mesmo que esteja decidido em se separar, não fará. O cristão que está depressivo,
mesmo que esteja desanimado e não queira mais viver, se levantará mais uma vez.
O indivíduo que uma vez foi alcóolatra, mesmo que esteja doido para tomar um
gole, não tomará. O ex-viciado ou o abstinente, que esteja sentindo tonturas de
vontade de fumar um baseado ou se drogar, não o fará. A pessoa com pensamentos suicidas,
com todas suas razões e pensamentos para tirar sua vida, dirá não pela milésima
vez e continuará vivo. Tudo isso porque? POR AMOR A CRISTO!!! Se essa é a cruz
de alguns de nós, carreguemos e sigamos em frente, pois Jesus não prometeu
facilidades nesta terra. Ele nos prometeu o Paraíso no Céu.
Será
que não é exatamente isso que está acontecendo conosco? Não é uma questão de
julgar ou não julgar. Ser misericordioso ou não ser. A questão é que sofremos
dessa amnésia hedonista, e só fazemos aquilo de que gostamos, que nos dá prazer
e nos faz felizes. Essa amnésia nos fez esquecer que somos cristãos e que
devemos renunciar. Essa amnésia nos diz que somos um homem/mulher que tem o
direito de ser feliz no casamento, então posso me separar se não estou contente.
Estou sofrendo e tenho direito de ficar na cama. Estou com vontade de tomar um
gole ou me drogar, então vou fazer só para relaxar. Tenho vontade de me matar,
então é isso que devo fazer. E ninguém tem nada com isso. Será? Até quando?
Que
busquemos tomar o remédio certo para nos curarmos dessa amnésia hedonista e
voltarmos a ser cristãos, a viver os primeiros dias, o primeiro amor. Como
todos, eu também tenho meus erros e falhas e também sofro dessa amnésia. O que
talvez esteja acontecendo comigo agora é que estou admitindo que sofro disso
também e abandonei esta eterna polarização entre julgamento e misericórdia.
Você admite?
Encerro com as palavras do apóstolo
para seu pupilo:
“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Tito 2:11 a 13