Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e
espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por
ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida,
e são poucos os que acertam com ela.
(Mateus 7:13 e 14)
Este texto é atual para a realidade da igreja
evangélica brasileira. Estamos vivendo dias onde a porta estreita é um conceito
ultrapassado. Neste texto, Cristo está abordando a questão das dificuldades e
privações que alguém, que deseja ser salvo, precisa passar. Ou seja, não é de
qualquer jeito, não é como queremos. É da maneira de Deus. E esta maneira já
está estabelecida: superando barreiras e dificuldades.
Mas atualmente, as coisas não podem mais ser
difíceis. Agora tudo tem que ser fácil.
Ao invés da porta estreita, estamos presenciando a
era do ESTRELISMO, do EXTRATO, do ESTRANGEIRO, e dos EXTREMISMOS.
ESTRELISMO: Nem é preciso
dizer muita coisa para ilustrar este conceito. Os ministros de louvor e
pastores, em sua maioria, sofrem da Síndrome
de Salomão. Começaram humildes, pequenos, pedindo sabedoria a Deus e
sem querer muita coisa em troca. Depois que a fama e o sucesso começaram a
acontecer; os convites para TV e política; as prioridades foram trocadas. Os
que não abandonam o ministério para seguir outras “carreiras”, vão então passar
a cobrar valores para cantar em eventos e praças.
Aquele evangelismo simples, em cima de caminhões,
nas esquinas, para que servissem de chamariz para as pessoas pararem e ouvirem
uma palavra de salvação ficou no passado. Hoje tem que ter estrutura, tem que
ter som de primeira, tem que ter máquina de fumaça e luzes mil, afinal de
contas, as bandas destes ministros são enormes, com 10 a 15 músicos, além de
suas famílias, que são sustentados integralmente pelo ministério do ministro.
Enquanto isso os
verdadeiros ministros estão batalhando com seus cds pagos do próprio bolso, em
igrejas, louvando e adorando onde derem oportunidade, mesmo que tenham que
pagar a gasolina e pedágios. O que importa é que poderão ministrar ao Senhor.
Os pregadores do evangelho genuíno pregam em igrejas com 10 pessoas no culto ou
com 1000 pessoas, da mesma forma, por que não estão pregando para as pessoas,
mas estão pregando para obedecer àquele que os chamou. E quando recebem uma
oferta de amor, são gratos a Deus e aos irmãos que serviram de instrumento para
que ele pudesse exercer o mandamento bíblico: “De graça recebestes, de graça
dai”.
EXTRATO – Aqui quero
abordar o exagero da questão financeira, por isso a palavra EXTRATO, que é o
documento mais valioso e mais conferido em muitas igrejas, pois mostra o quanto
entrou de oferta após aquele “desafio” que vai mudar a vida de muitos.
Crer em votos e
desafios e bíblico e tem o seu lugar na vida cristã. Mas o contexto bíblico, em
toda a Bíblia, não nos autoriza a fazer da questão de votos uma doutrina. Ou
seja, eu posso fazer um voto pessoal com Deus seja ele financeiro ou não. Mas
pregar isso, como se fosse uma doutrina, vinculando este voto ou desafio ao
alcance de uma benção ou unção ainda não conquistadas, é no mínimo
irresponsável, biblicamente falando.
Imaginemos um
cristão comum, que ora, jejua, busca a Deus frequentemente, é assíduo aos
cultos, lê a Bíblia, mesmo com todas as dificuldades modernas, pelo menos 1 vez
no ano. Ou então um pastor que é fiel, cuida de suas ovelhas, e faz tudo acima
e mais ainda o cuidado da igreja, prepara mensagens, prega e intercede pelo
povo.
O que temos
ouvido na maioria dos congressos e eventos pelo Brasil afora é que só após
darmos uma oferta X, um valor maior, uma oferta de fé, isto é, um valor que não
temos no momento, só assim este cristão ou pastor poderá alcançar o que busca.
Isto não é uma volta ao AT ? Não é barganhar com Deus ? E a vida justa e reta
que eles levavam, não conta para nada ? Deus é tão caprichoso assim, que só se
receber uma taxa extra é que ele vai então me abençoar ? E porque sempre
dinheiro ? Não poderia ser um desafio de mais horas de oração ? Mais leitura da
Bíblia ? Mais doações de cestas básicas para carentes e necessitados ? Será que
a teologia furada das igrejas neo-pentecostais, de que o sacrifício de animais
do AT foi substituído pela oferta em dinheiro, tem entrado de vez em nossas
igrejas ditas “evangélicas normais” ?
ESTRANGEIRO – Louvamos a
Deus por todas as nações e povos da terra. Deus levantou pessoas de outras
nações para virem como missionários para o Brasil. Eu mesmo faço parte de uma
denominação centenária, que teve seu início na cidade de Ijuí, no Rio Grande do
Sul, através da vinda de um missionário sueco que veio para cuidar dos colonos
suecos que moravam e trabalhavam em suas terras, isto em 1912. De lá pra cá, a
obra cresceu e se expandiu por todo o Brasil. Outros missionários vieram, de
outras nações, como EUA, Inglaterra, Suiça, etc e etc.
A contribuição
estrangeira na evangelização brasileira é inegável. Até hoje sentimos o reflexo
na teologia, filosofia, sociologia, psicologia e música. Mas a minha questão
aqui é a seguinte: Estamos no Brasil. Temos um jeito próprio, uma cara, uma ginga,
um dom que Deus deu só para nós brasileiros.
Há uma mania no
brasileiro de pensar que tudo o que é bom é importado. E de fato muitas coisas
são melhores do que as nacionais, pelo simples fato de que não se dá valor para
o que é feito aqui, e consequentemente não se investe tanto em qualidade como
os estrangeiros fazem.
Na música de
adoração a Deus, nesta última década estamos experimentando uma avalanche de
traduções de músicas. Antigamente isto era feito, mas uma ou outra, e mesmo
assim com muito critério e traduzindo completamente para o português, no
sentido que melhor fica em nossa língua e não apenas aquela tradução literal,
palavra por palavra.
Agora todos os
grupos estão traduzindo músicas de fora. Parece que isso se dá pela ânsia de
gravar 1 ou 2 cds por ano. E como não há tempo para inspiração e adoração
devocional ao Senhor, por conta da falta de tempo, pois a agenda está lotada de
domingo a domingo, então que venham as músicas gringas !! Existem até sites que
facilitam esta questão, oferecendo as versões já feitas em Português, ou as
licenças para traduzir e fazer versões de músicas, mediante é claro uma módica
quantia real mesmo, nem precisa mais ser em dólar.
E os livros das
editoras brasileiras ? Todas, sem exceção, investem pesados nos teólogos
estrangeiros. Onde estão os teólogos brasileiros ? Que possam pensar e refletir
uma pragmática e uma práxis totalmente voltadas para o nosso contexto. Por que
eu tenho que ler um livro que fala pra que eu invista em evangelismo de jovens
universitários através de basquete e no período da tarde, se no Brasil o
esporte popular é o Futebol e a maioria de nossos jovens universitários estudam
e trabalham e só tem tempo nos fins de semana ??
EXTREMISMOS – A igreja
Brasileira é um retrato de sua sociedade. Ela reflete exatamente o que se vive
fora dos portões da igreja. Assim como o Brasil é o país das desigualdades,
onde poucos têm muito e muitos não têm quase nada, assim vemos na igreja
brasileira.
Se falarmos de
eventos e congressos, isto é muito claro. Existem eventos fechados, só para um
público específico, aonde só vão pessoas daquele tipo de igreja, e são baratos
ou gratuitos, pois as pessoas precisam custear a passagem até o local, que
normalmente é um ginásio ou estádio.
Mas existem
também eventos de elite, onde só pregam a nata dos teólogos e filósofos das
diferentes vertentes evangélicas. Seja o tema do congresso missões, células,
louvor, família, casamento, avivamento, estes eventos são caríssimos e
realizados apenas em hotéis de luxo e em cidades turísticas como Águas de
Lindóia ou Serra Negra. Eventos como este chegam a custar R$ 1.500,00 por
pessoa, parcelados para facilitar é claro.
Ou seja, há
eventos para todos os gostos e bolsos. Se sua igreja é pequena os congressos e
eventos só podem ser na sua igreja local mesmo, ou no máximo regional. Se sua
igreja é média/grande pode enviar seu pastor para um destes hotéis chiques em
um congresso de 1 semana. Agora me pergunto: Onde está a visão de Reino ? Os
congressos precisam ser caríssimos e em hotéis de luxo ? Os eventos fechados
não podem ser abertos para outras igrejas e outros pastores que não de sua
própria denominação ?
Não vejo visão de
reino na igreja brasileira, e sim visão de império, onde cada um quer montar o seu,
competindo com outros. E vale tudo, pescar em aquário, falar mal de outra
igreja ou pastor, enfim Maquiavel está presente nos púlpitos, pois os fins
justificam os meios.
Fato interessante
é que na igreja brasileira existe um mal chamado Culto a Personalidade. Um líder ou um casal de líderes é
guindado a condição de apóstolos ou pais espirituais da nação e aí pronto. São
os atalaias e porta-vozes de Deus na Terra. Quem mexer com eles, mexe com Deus
! Mas quem abençoa-los recebe a bença !! O tempo passa, o líder anterior perde
a força, a mídia não fala mais nele, a grana vai minguando, de repente: bummm –
aparece outro líder para salvar a pátria e dizer que Deus o levantou, que o seu
ministério é para tocar as nações, que só ele é que tem a unção é blá blá blá
de sempre. E claro, vem à TV ou Rádio pedir sua contribuição, pois esta obra
não pode parar....
Enquanto isso, lá
no Nordeste, temos mais de 50 cidades com menos de 1% de evangélicos. Algumas
que não possuem nenhuma igreja evangélica. Nunca um pastor pisou o pé lá. E
aqui temos igrejas parede com parede, literalmente.
O mais triste de
tudo isso é que todas estas coisas acima acontecem por culpa dos próprios
crentes. Ou seja, a culpa é nossa mesmo.
Existe ESTRELISMO
porque tem pessoas que desejam ser fãs e colocam outras pessoas acima delas
mesmas. Existe ênfase no EXTRATO bancário, porque tem pessoas que se submetem a
estes votos doidos e pagam pra ver, literalmente. Nada como uma boa barganha
com Deus, porque sairemos sempre na vantagem. Se ele responder eu levo o lucro
e conto o testemunho. Se ele não responder, eu critico a igreja e o pastor e
não levo a culpa da reponsabilidade de orar e buscar a Deus realmente.
Os ESTRANGEIROS
ainda estão por aqui, dando suas caras e invadindo nossa praia porque os
músicos e teólogos não acreditam em si mesmos e não trabalham arduamente para
fazer nossa própria música e teologia tupiniquim. Salvo raríssimas exceções.
E a igreja
brasileira perde a oportunidade de ser diferente da sociedade brasileira. Ao
invés de mostrar a igualdade, a isonomia, a visão de reino, fazemos como a
igreja católica fez no passado e imitamos o império romano. Enquanto isso
acontecer, teremos sempre EXTREMISMOS por toda a parte.
A
porta é estreita, mas quem está prestando atenção ? Tem alguém ouvindo aí ?Pr. Leandro Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário