Estudo baseado em Romanos 1:24 a 32 Uma análise da expressão “Deus os entregou”
“Por isso
Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus
corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de
Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do
Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a
paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais
por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram
as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos
outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em
si mesmos o castigo merecido pela sua perversão. Além do mais, visto que
desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental
reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte
de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja,
homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores,
inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de
praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor
pela família, implacáveis. Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as
pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a
praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam”. Romanos 1:24-32
É fato que há pessoas em conflito com sua sexualidade que frequentam igrejas evangélicas. A educação e cultura em que foram criadas as coloca em situações complexas, pois além de lidar com a luta interna de sua identidade X sexualidade, tem que lidar com as pressões externas como preconceito, isolamento, fofocas, sentimento de culpa por palavras lançadas, etc.
Estou me referindo a pessoas cristãs, que
frequentam, ou frequentavam igrejas, que amam a Deus e louvam a Jesus. Entendem
que o que sentem e praticam, ou praticaram, é pecado e contrário a vontade de
Deus. Não conseguem vencer de uma vez por todas esta luta, mas também não
querem “sair do armário”, para viver uma vida depravada, como a mídia clama.
Mas toda pessoa em conflito com sua sexualidade é
homossexual? Todas sentem necessariamente AMS (atração pelo mesmo sexo)? E se
sentem, todas essas pessoas se entregam a prática homossexual?
Em contato com as pessoas em questão percebo que
não gostam de rótulos, o que provavelmente implica em um sentimento de tristeza
ou de mágoa ao ouvirem que são “isso” ou “aquilo”. Penso que estão corretos em
sua posição. Mas a título de entendimento, vamos classificar 3 posicionamentos
das pessoas com AMS:
1-) Cristão em luta com a sexualidade – Pessoa que percebeu que
sua sexualidade é diferente dos demais. Entende isso e percebe quando acontece.
Está lutando com os sentimentos, emoções e pensamentos que o perturba. Às vezes
tem recaídas e cai, tendo contato ou relação com alguém do mesmo sexo. Mas
depois pede perdão, se arrepende, confidencia com alguém e tenta retomar sua
vida de adoração a Deus. É consciente que está em luta constante contra si
mesmo. Alguns conseguem viver um longo tempo vencendo sua luta. Alguns até se
declaram curados. Exercem posições e cargos na igreja. Mas estão sempre com um
alarme ligado, em caso de tentação para que não haja recaída. Outros estão em
luta constante e não conseguem pensar em mais nada. Por isso só frequentam
cultos e não participam de ministérios. Alguns destes até saem da igreja por
não se acharem dignos ou preparados para estar ali.
2-) Homoafetivo – Resolvido em sua sexualidade, mantém uma
relação estável com um parceiro do mesmo sexo, alguns até oficializando esta
união em cartório, o que no Brasil é permitido por lei. Querem ser reconhecidos
na sociedade. São estes que aparecem na mídia, dando testemunho que suas vidas
melhoraram agora que assumiram sua sexualidade. Frequentam igrejas de Teologia
Inclusiva, que aceitam homossexuais sem nenhum preconceito, e que alteraram a
interpretação ortodoxa bíblica para dizer que Deus aceita o homossexual como
ele é, sem precisar mudar seu comportamento. Normalmente tem bons empregos e
muitos adotam crianças em orfanatos, criando-os como seus filhos. Uma nova
classe de família surge com eles.
3-) LGBTQ+ - Pessoas que já deram as costas para a igreja e a
vida cristã bíblica e passaram a viver suas vidas buscando a satisfação do
prazer e sua felicidade. Normalmente são “desviados”, pessoas que já
frequentarem a igreja e tiveram posições em ministérios. Vivem suas vidas para
esta busca frenética e já perderam sua fé, ou querem experimentar algo que
sempre foi proibido para eles. São militantes pela causa e defendem com unhas e
dentes sua identidade e se orgulham disso. Existem os mais sensíveis e os mais
radicais. Mas todos sem exceção defendem o seu direito de viver sem máscaras e
ser o que eles querem ser, pois entendem que foram criados assim.
Análise do Texto
O texto acima é um dos mais clássicos e famosos
citados neste assunto. Mas Paulo está direcionando suas palavras para qualquer
pessoa que tenha conflitos com sua sexualidade? Qualquer um que seja tentado na
área sexual, com uma tendência para AMS é alvo do texto de Paulo em Romanos?
Para responder estas questões fiz uma breve análise
da expressão “E Deus os entregou”,
presente nos versículos 24, 26 e 28 do capítulo primeiro da epístola de Paulo
aos Romanos. É intrigante pensar que se Deus os entregou a esta prática, então
seria vontade de Deus que eles pequem e se percam? Deus não os ama? Porque Deus
só entrega pessoas que tenham este pecado? E os outros? Várias questões surgem
ao pensar nesta expressão, por isso uma análise mais profunda se faz
necessária. Daí lancei mão da exegese e da língua grega.
A expressão em Grego Koiné é: (parédoken
autous ró teós) O termo grego: (parédoken)
é um verbo que está no tempo Aoristo Indicativo Ativo, na 3ª pessoa do
singular. No texto em questão a tradução literal ficaria “Ele entregou eles
Deus para”. Este verbo tem o radical em (paradídomi) que é um verbo com muitos
significados e bastante complexo. Seguem alguns dos significados encontrados:
“Entregar, dar, passar para”. (Léxico
do Grego do NT – F. Wilbur) – Significado geral.
O Dicionário do Novo Testamento
Grego, de W.C. Taylor diz “Entrego,
rendo, traio, encomendo, transmito, deixo, entrego verbalmente ou por escrito
ou por ensino, responsabilizando a quem recebe pela guarda e transmissão,
confio a”.
O Léxico Grego do NT, de Edward Robinson
declara que para este texto o significado seria “pessoas ou coisas entregues pra fazer ou sofrer alguma coisa, dedicar,
entregar, abandonar, permitir” podendo também ser para “pessoas entregues para seguir suas paixões ou apetites a alguma coisa,
ou seja, ao poder ou à prática disso”.
O Léxico
Grego-Português do Novo Testamento, de Low e Nida diz que o texto de Romanos
1:26 é traduzido por “Deus os entregou a
paixões vergonhosas”, sendo que o verbo associado (pátos) significa “sentir intenso desejo carnal, particularmente desejos de ordem sexual;
paixão, desejo lascivo, desejo, ter desejo”.
Textos associados
Em Lucas 4:6 o
verbo (paradídomi) significa “entregar ou passar algo a alguém,
particularmente um direito ou um poder; entregar, dar, passar a”.
A expressão
descrita em I Timóteo 1:20 diz “entregar
alguém ao poder de Satanás para ser afligido e atormentado de males”. Com o
acréscimo (eis
oletron sarkós) a frase parece ter se originado das fórmulas judaicas de
excomunhão, porque a pessoa banida da assembléia teocrática era considerada
privada da proteção de Deus e entregue ao poder do Diabo.
Em Atos 7:42 Estevão cita que
devido às tendências idolátricas dos israelitas, “Deus... os entregou ao culto
da milícia celestial”.
Em Lucas 1:73 e 74 o verbo (paradídomi) significa “conceder a alguém a oportunidade ou ocasião para fazer algo, conceder,
permitir”.
O texto de João 19:30 traz o
verbo (paradídomi) em uma
expressão idiomática, com o significado “morrer,
entregar o espírito, com a possível implicação de se tratar de um ato
voluntário”.
A expressão literal “fruto dá”
está no texto de Marcos 4:29 onde o verbo (paradídomi) indica
que a colheita está por começar, a colheita está madura, o fruto está maduro, o
tempo da colheita chegou.
(paradídomi) em Mateus 26:45 significa literalmente
“entregar nas mãos”. O termo expressa a idéia de “entregar alguém ao domínio ou controle de outros, entregar a, entregar
ao controle de”.
Quem são essas pessoas?
Voltando a
pergunta inicial: Toda pessoa em conflito
com sua sexualidade é homossexual? – é preciso analisar então quem são as
pessoas que o Apóstolo Paulo tem em mente ao escrever este texto e afirmar que
Deus os entregou a algo.
Podemos perceber
pelas expressões utilizadas o que estas pessoas fizeram:
“...tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus” – vs 21
“...trocaram a glória do Deus imortal por imagens...” – vs 23
“...trocaram a verdade de Deus pela mentira” – vs 25
“...abandonaram as relações naturais com as mulheres” – vs 27
“Tornarem-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e
depravação” – vs 29
Vemos aqui uma
progressão continuada, uma crescente de rebelião e transgressões, iniciando em
desprezar o conhecimento de Deus, passando por idolatria e trocar a verdade
pela mentira, chegando à prática pervertida e daí em diante piorando cada vez
mais. Mas há um elemento de mudança, apontando para uma vida anterior, como se
as pessoas que Paulo menciona não eram assim anteriormente, mas se tornaram
quando trilharam um caminho de voltar às costas para Deus.
A princípio
olhamos para estas práticas mencionadas e podemos perguntar: o que é que isso
tem a ver com a homossexualidade? Ora, pela menção de Paulo à respostas que
Deus dá a cada uma destas atitudes, podemos compreender que não eram simples
transgressões. Eram pecados na área sexual:
“Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos
pecaminosos do seu coração, para a degradação do seu corpo entre si” – vs 24
“...Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até as mulheres
trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à
natureza. Da mesma forma os homens também abandonaram as relações
naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros.
Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens...” – vs 26 e 27
O texto chave,
que pode nos dar uma grande luz é o verso 32: “Embora conheçam o justo decreto de Deus...não somente continuam a
praticá-las mas também aprovam aqueles que as praticam”.
Respondendo então
a questão inicial chegamos à conclusão que, segundo o texto, a homossexualidade
pode ser uma disposição mental e física, que perverte a constituição do
relacionamento sexual estabelecido e criado por Deus, praticado por pessoas que
apesar de terem conhecimento de Deus e de seus decretos, escolhem por livre e
espontânea vontade viver nesta prática. E quando isso acontece, duas coisas
automaticamente são consequências diretas:
1-) Deus transfere a responsabilidade dos atos para a própria pessoa –
que é o significado literal da expressão “Deus os entregou”;
2-) A pessoas vai se afundando cada vez mais na prática, chegando ao
ponto descrito nos versículos 30 e 31: “Caluniadores,
inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos, inventam maneiras de
praticar o mal, desobedecem a seus pais, são insensatos, desleais, sem amor
pela família, implacáveis”.
Usando as
categorias que já mencionamos, entendo que os cristãos em luta com a sua
sexualidade não se encaixam neste perfil descrito pelo Apóstolo Paulo, enquanto
são pessoas, homens ou mulheres, que vivem em suas famílias, seguindo os
valores e virtudes da ética e da Palavra de Deus. Apesar de sentirem culpa e se
arrependerem constantemente dos pensamentos e recaídas que usualmente possam incorrer,
não estão virando as costas para Deus e para seus decretos. Pelo contrário
estão vivendo em renúncia, constantemente indo aos pés de Jesus buscando ajuda,
consolo e direção na dura luta entre a carne e o espírito, que diariamente
enfrentam.
Quanto aos
homoafetivos e os declaradamente LGBTQ+, estes são os candidatos em potencial
que possuem o perfil descrito pelo apóstolo no texto em Romanos. Isso não
significa destino, pois Deus deseja o arrependimento de todos e a mudança de
vida pode acontecer. Mas o livre arbítrio e a vontade humana são grandes
obstáculos nas mãos de pessoas não quebrantadas e que não param para ouvir e
refletir em suas práticas, preferindo a satisfação de seus prazeres acima de
tudo.
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