Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta
é que também os que têm mulheres sejam como se as não tivessem; E os que choram,
como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que
compram, como se não possuíssem; E os que usam deste mundo, como se dele não
abusassem, porque a aparência deste
mundo passa.
(1Co 7:29-31)
Recentemente me foi perguntado: Qual
sua opinião sobre como a igreja será depois desta pandemia? Quando passar todo
o problema do vírus, quando voltarmos ao normal, como vamos realizar missões?
Foi uma pergunta que apesar de muito atual, me pegou de surpresa. Minha
resposta foi resumida, de bate pronto, mas não irrelevante. Até porque é um
assunto que estamos pensando e desejando muito, que tudo isso acabe logo. O que
respondi naquela ocasião, vou expressar neste artigo de forma mais explanada.
Iniciando esta opinião me baseio no
texto citado acima. O Apóstolo Paulo está respondendo aos irmãos da igreja de
Corinto perguntas sobre casamento, relacionamento e afins. Ao mesmo tempo o
velho apóstolo está preocupado com o trabalho na obra de Deus e suas
necessidades. Principalmente na questão do tempo, pois era evidente para os
irmãos daquela época a iminência da volta do Senhor Jesus a qualquer momento.
Então apesar de ser muito importante decidir bem sobre as questões de
relacionamento, casamento e sexualidade, Paulo quer colocar uma ordem de prioridade
nisso tudo. E a prioridade que ele sugere é que frente ao pouco tempo que
tinham, a obra de Deus deve ser feita com um senso de urgência.
Ele afirma que o tempo se abrevia, e
que a aparência deste mundo passa. Estas palavras são ainda mais atuais e contundentes
em nosso momento atual. Se para o apóstolo escolher entre casar e fazer a obra
de Deus era algo a se pensar, dado que tanto uma decisão como outra demandará
tempo e dedicação para tal. Se escolho casar e ter um relacionamento tenho que
me dedicar e investir tempo na outra pessoa, na relação, na cerimônia, na casa
que vou morar, nos móveis e todo o pacote que um casamento gera. Se escolho a
obra de Deus, vou me dedicar entre o preparo, o conhecimento, a oração, a
consagração e dedicar todo o tempo para as coisas de Deus. Frente a tudo isso,
o apóstolo alerta: O tempo se abrevia. Então, se não temos muito tempo, o que
devemos escolher? Qual caminho devemos seguir?
Antes que alguém diga que estou
julgando algo ou alguém, espere um pouco. Não estou afirmando que escolher
casar e ter um relacionamento ao invés da obra de Deus, é algo egoísta ou ruim.
Não, pelo contrário. Também não estou dizendo que escolher fazer a obra de Deus
em detrimento de um relacionamento é super espiritual. É preciso discernir os
tempos, algo que nem sempre sabemos fazer bem.
Mas estamos vivendo algo que nossa
geração nunca viveu. Pandemia parecida com essa apenas a famosa Gripe Espanhola
que assolou o mundo e se deu na época de 1920 mais ou menos. Ou seja, 100 anos
depois o mundo novamente tem que parar e se resguardar, além de contar seus
mortos... Depois de um tempo como esse, é salutar e fundamental perguntar: O
que vamos fazer quando tudo voltar ao normal?
Primeiro entendo que nunca mais
voltaremos ao “normal”. O que era o “normal”? Era bom? Era saudável? Era
importante? Todos os cuidados e recomendações médicas sobre distanciamento,
máscaras e depois uma possível vacina estarão em nosso cotidiano por muitos
anos ainda. Outra questão é que também pode acontecer possíveis ondas de surto,
ou retornos de contaminação, pois a população nem sempre obedece as regras.
Nações, cidades e povos não são mais os mesmos nem nunca serão. Pessoas se
foram, celebridades ou anônimas, e deixaram uma lacuna em algum lugar.
Frente a tudo isso entendo que
vivemos hoje exatamente o sentimento que o apóstolo Paulo expressa em sua carta
aos Coríntios. O tempo se abrevia, a aparência do mundo está passando. Não
temos tempo a perder. Dito isto, quando as coisas flexibilizarem, a poeira
abaixar, as primeiras atitudes serão pensando em resolver a situação econômica
do país e das famílias, visto que muitas empresas fecharam suas portas, muitas
famílias sobrevivem com ajuda do governo e das igrejas. Isso está refletindo em
nossas igrejas, sobretudo nas finanças, pois a redução das entradas da igreja é
reflexo dos irmãos que foram demitidos, ou são autônomos e profissionais
liberais que não tem mais o salário para poderem ofertar e dizimar.
Fomos empurrados para uma nova
divisão em nossa história. AC e DC. Os livros de história escreverão e nós
contaremos para nossos filhos e netos como era Antes do Corona. Mas quando
estivermos DC, Depois do Corona, o que vamos fazer? Vamos viver a mesma vida, o
normal de antes? Vamos simplesmente virar a página e continuar perdendo tempo e
dinheiro em coisas que não são úteis? O Profeta Isaías adverte: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não
é pão?” (Isaías 55:2), enfatizando o porquê o povo de Israel perdia tempo e
dinheiro naquilo que não era importante.
Este momento é único em nossa
história. Um novo divisor de águas. O DC tem que ser melhor que o AC! Temos que
sair na outra ponta não apenas sobreviventes, mas aptos para uma vida plena em
todos os sentidos. E entendo eu que isso se traduz em uma palavra: FOCO. Será
tempo de focar nas coisas que realmente importam, na essência do que realmente
é importante. Nas tarefas que deixarão legado e herança para o futuro. Amar as
pessoas, servir os necessitados, ajudar os que precisam, perdoar dívidas e
ampliar amizades. Abraçar e se relacionar com quem vale a pena. Sair de onde
não somos valorizados e entrar onde realmente necessitam de nós.
Terminar aquele curso que você não
terminou. Reativar aquele relacionamento que você rompeu. Ler os livros que
você prometeu um dia ler. Tomar aquela decisão que você está procrastinando há
anos. Romper com o que te atrapalha e se abrir para as coisas boas e novas,
principalmente de Deus. Mudar de profissão, de cidade, de ares, de vida!
Já que não temos mais tanto tempo
quanto tínhamos antes, e com certeza temos menos tempo hoje do que na época do
Apóstolo Paulo, qual deveria ser o foco principal da Igreja do Senhor Jesus
nesta terra? Não seria voltar nossa atenção as prioridades que o próprio Deus
estabeleceu? Dois versículos famosos nos lembram destas prioridades:
Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra. Atos 1:8
Sempre fiz questão de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido - Romanos 15:20
Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra. Atos 1:8
Sempre fiz questão de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido - Romanos 15:20
Traduzindo em termos mais concretos, não é hora de deixarmos todo o restante para segundo plano e focarmos em PLANTAÇÃO DE IGREJAS, de forma missional e intencional?
Missional – Uma igreja
que seja bíblica, saudável e relevante, contextualizada em uma comunidade de
tal forma que comunique o evangelho de forma eficiente, atraindo os não
cristãos para Cristo.
Intencional – Um grupo
de irmãos plantadores de igreja que se desloquem para um local geográfico não
alcançado, ou pouco alcançado, com a intenção de provocar o surgimento de uma
igreja, uma comunidade de fé que se reúna em um local específico.
Em nosso próprio país temos 8
segmentos menos evangelizados, em especial podemos destacar 2 destes grupos:
Imigrantes e Sertanejos. Todas as grandes cidades tem grupos de imigrantes
morando próximos a nós. Podemos evangelizar haitianos, bolivianos, paraguaios,
chineses, árabes, e outros que moram próximos a nós. Talvez nunca teríamos
oportunidade de conhecer essas pessoas mas elas estão aqui próximas. Ao crerem
em Cristo, poderão voltar ao seu país de origem e levar o evangelho com elas. O
outro grupo são os sertanejos. Muitos de nós temos parentes ou amigos que são
nordestinos e moram em cidades pequenas. Essas pessoas vem para cá visitar ou
nós vamos para lá revê-las. Por que não levar o evangelho, começar uma reunião
e discipular essas pessoas?
Fora de nossa nação temos
aproximadamente 2.500 povos ainda não alcançados, mais de 1.500 línguas que não
tem tradução da bíblia em seu idioma, nem sequer João 3:16 traduzido. E existem
ainda grandes desafios que posso citar aqui como[1]:
1-) Atualmente existem
mais pessoas vivendo que não conhecem a Cristo do que em qualquer época da
história – Para cada 10 novos crentes, 45 pessoas nascem no mundo;
2-) Desde a década de
90 o crescimento evangélico no mundo está caindo;
3-) De cada 10
missionários, apenas 1 está trabalhando entre os povos Não Alcançados;
4-) 81% dos não
cristãos nunca tiveram contato com pessoas cristãs;
5-) Gastamos mais
dinheiro com ração para cães do que investimos em missões.
Dentre estas estratégias poderíamos
destacar outras mais e você que está lendo pode ter outras ideias também. Mas a
mensagem que quero deixar é que não podemos ir para um tempo DC pensando da
mesma forma que pensávamos AC. Raciocine comigo: Será que Deus não permitiu
este tempo, justamente para forjar um povo que foque naquilo que é mais
importante, naquilo que vai render frutos para a eternidade?
Minha oração e meu desejo é que eu
possa, juntamente com você, chegar ao DC. E ao chegar lá, possamos nos despojar
do velho que ficou AC e realizar de uma vez por todas a essência do que JC nos
mandou fazer!
Leandro Silva
Pastor, professor de Teologia, Grego e Missões em diversos
seminários pelo Brasil
Bacharel em Teologia com Especialização em Missiologia
Mestrando em Missiologia, Pós-Graduado em Antropologia
Missionária
Autor dos livros: “Eu sou o Sal da Terra” e “Curso de Grego
Koiné – Nível Instrumental”
[1][1] Fonte: Joshua Project – PPT “Five
Celebrations Five Challenges” disponível em www.joshuaproject.net
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