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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

ESSA INCRÍVEL IGREJA - Reflexões sobre a Eclesia

 

               


Quando dizemos igreja, o que estamos querendo dizer? O Substantivo? – A igreja; O Local? – Na igreja, A igreja na casa; A ação? – Adoração coletiva durante uma reunião; O Coletivo? – A igreja de (local) - O corpo de Cristo composto de cristãos que moram em determinado local. A palavra no NT traduzida por Igreja é “ekklêsía - Eclesia”. O termo Eclesia literalmente não significa “chamados para fora” como normalmente se diz. Este termo é έκκαλέω – “chamar para fora, chamar; atrair; provocar”. Precisamos então nos aprofundar um pouco para separarmos o joio do trigo e extrairmos o que é essencial.

Etimologia - Visto que a ekklêsía do NT recebe sua marca específica por intermédio do AT, a história é mais importante que a etimologia, especialmente quando nem ekkaleín nem ékklêtos ocorrem no NT, e ambos são também muito raros na LXX. Os escritores do NT não parecem ter tido em mente a ideia de “convocados” quando falavam da ekklêsía (embora cf. Ef 5.25ss.; lTm 3.15; Hb 12.23). Se a igreja de fato é constituída por aqueles a quem Deus chamou do mundo, isso diz mais respeito a considerações materiais do que linguísticas. A denotação é sempre a “assembléia (de Deus)”. A palavra “igreja” sugere o aspecto universal e, etimologicamente, o fato de pertencer ao Senhor (kyriakón), mas ela tem a desvantagem de ter adquirido uma nuança hierárquica. A palavra “congregação” destaca o fato de que a pequena irmandade já é igreja, e salienta o aspecto de reunião, mas tem a desvantagem de chamar a atenção para o grupo individual, por vezes num sentido sectário. “Comunidade eclesiástica” poderia ser recomendado como possível alternativa para ambas.

Dicionários gerais definem ekklêsía como 1. “assembléia” e 2. “igreja”. Léxicos do NT distinguem entre igreja como: a-) todo o corpo e b-) a congregação local ou igreja na casa. A ênfase difere de acordo com a denominação, embora, por vezes, a unidade básica seja percebida. Visto que o NT usa um único termo, as traduções deveriam tentar fazer o mesmo, mas isso levanta a questão quanto a se “igreja” ou “congregação” é sempre adequado, especialmente em vista do uso do AT para Israel e do subjacente hebraico e aramaico. Deve-se também indagar o motivo pelo qual a comunidade do NT evita um termo cultual para si mesma e escolhe um termo mais secular. “Assembléia”, então, seria talvez o melhor termo, especialmente por possuir tanto um sentido concreto quanto abstrato, ou seja, tanto para o ato de congregar quanto para a assembléia.

NO NOVO TESTAMENTO:

Uma questão importante é o motivo pelo qual ekklêsía não ocorre em livros como Marcos, Lucas, João, ele 2Pedro. As primeiras passagens em Atos (2.47; 5.11; 7.38; 8.1, 3; 9.31) são importantes em vista do uso não apenas para a igreja de Jerusalém (8.1), mas para a igreja em toda a Judeia e também para o Israel do AT (7.38). O singular predomina, porém mais tarde também encontramos o plural (possivelmente 9.31, provavelmente 15.41, certamente 16.5). Uma expressão significativa é 20.28: “a ekklêsía do Senhor que ele comprou com seu próprio, sangue”. Em todos esses versículos, a igreja local é chamada de ekklêsía sem qualquer questão de precedência ou de ênfase local. O singular e o plural são intercambiáveis. Duas ou mais igrejas não perfazem a igreja, nem há muitas igrejas, mas uma só igreja em muitos lugares, seja judaica, gentílica ou mista. O único termo descritivo, por vezes acrescentado, é toú theoú (ou kyriou), que claramente a distingue de uma sociedade secular (denotada em 2.47 por laós).

                 No Livro de Atos em três ocasiões há um uso puramente secular de eclesia (19.32, 39, 40), que demonstra que o que importa não é o ato de congregar-se como tal, mas quem congrega e o motivo pelo qual o faz. No caso da igreja, é Deus (ou o Senhor) quem congrega seu povo, de modo que a igreja é a ekklêsía de Deus, que consiste de todos aqueles que lhe pertencem (cf. hólè em 5.11; 15.22). Aplicado aos crentes, o termo é essencialmente qualitativo, a assembléia daqueles reunidos pelo próprio Deus.

Epístolas paulinas - O uso em Paulo é similar; cf. o uso livre de singular e plural (Rm 16.23; 16.4, 16; G1 1.13, 22), o uso de hólê (Rm 16.23), e as referências a um lugar (Rm 16.1) ou região (ICo 16.19). A omissão ocasional do artigo mostra que ekklêsía é quase um nome próprio (cf. ICo 14.19; 2Co 8.23). Até mesmo uma pequena igreja numa casa pode ser chamada de ekklesía (Rm 16.5). Cada igreja local representa a igreja como um todo (2Co 1.1: “ a igreja que está em Corinto”), de maneira que aquilo que nela se aplica (ICo 6.4; 11.18; 14.34) será aplicado em toda parte. Para Paulo, também, toú theotí é a principal definição, quer no singular (ICo 1.2) quer no plural (1.16). (Isso mostra que ele não faz distinção entre igreja de igrejas, como por vezes se costuma fazer.) Visto que Deus age em Cristo, en Christõ (G1 1.22) ou toú Christoú (Rm 16.16) também pode ocorrer; “cristã” é uma tradução muito insípida para isto. Também encontramos “igrejas dos santos” em ICo 14.33 - o que é natural em vista da equiparação da ekklesía com os “santificados em Cristo Jesus” em 1.2.

Essencialmente, Paulo tem em comum sua concepção da igreja com os primeiros discípulos. A igreja é ainda a ekklesía toú theoú como no AT, mas com o fato novo de Deus ter cumprido a aliança em Cristo e de Cristo ter se manifestado aos seus discípulos e tê-los comissionado a reunirem um povo em seu nome. A igreja é constituída e autorizada pelas aparições do Senhor ressurreto, não pelas experiências carismáticas que também são desfrutadas pelos discípulos e por Paulo. Paulo assim reconhece os privilégios da primeira comunidade e seus líderes, como pode ser visto em sua organização da coleta para Jerusalém (que não é apenas uma questão de benevolência ou estratégia) e sua descrição de Tiago, etc., como “colunas” em G1 2.9 (mesmo que aqui exista certa ironia em vista da falibilidade humana e do desejo errôneo de alguns de superexaltar pessoas com autoridade). Paulo não possui qualquer desejo de impor uma nova visão da igreja, mas antes quer proteger a visão original contra inovações incipientes. Para ele, a igreja permanece ou perece com seu único fundamento em Cristo, seu reconhecimento exclusivo como Senhor e a rejeição da ênfase exagerada em pessoas ou lugares. Nenhuma descrição da igreja é dada, porém Paulo chega ao centro da questão com sua compreensão (paralela à de Atos) como assembléia reunida por Deus em Cristo.

As outras passagens do NT acrescentam pouco ao que foi dito. Apocalipse usa o plural 13 vezes e também fala da igreja de Éfeso, Esmirna, etc. 3João usa o termo duas vezes com o artigo e duas vezes sem ele. Tg 5.4 menciona os presbíteros da igreja, provavelmente referindo-se a toda a comunidade. Hb 2.12 cita SI 22.22, e Hb 12.23 se refere à assembléia do primogênito, provavelmente não num sentido técnico, mas simplesmente no sentido de uma reunião festiva no céu (cf. v. 22).

Em resumo, segundo o NT, a eclesia cristã era composta de crentes batizados, que se reuniam com o propósito de ganhar pessoas para Cristo, batizando-as e ensinando-lhes a Bíblia. Eles observavam duas ordenações: o batismo e a Ceia do Senhor. Seus oficiais eram os pastores e diáconos. O governo era democrático. Apesar de haver muitas outras eclesias cristãs por todo império romano, havia só um tipo. Todas tinham o mesmo padrão em relação a fazer membros, propósito, ordenanças, oficiais, etc., até aqui indicados. A Eclesia cristá é uma sociedade de cristãos, ou daqueles que, esperando por eterna salvação através de Jesus Cristo, observar seus próprios religiosos ritos, segurar suas próprias religiosas reuniões e gerenciar seus próprios assuntos de acordo com os regulamentos prescritos para o corpo para o fim do amor.

 

Eclésia Grega – Requisitos para participação:

Embora por definição a eκκλησία fosse uma assembleia popular, a principal assembleia da democracia ateniense na Grécia Antiga, contudo não tinha nada do ideário que hoje consideramos ‘popular’. Era uma assembleia restrita a aproximadamente 10% da população, visto ser acessível somente aos cidadãos do sexo masculino, com mais de dezoito anos, que tivessem prestado pelo menos dois anos de serviço militar e que fossem filhos de pais natural da pólis, ou seja, excluía os comuns do povo, as mulheres, as crianças, os forasteiros, os estrangeiros (Metecos: Μέτοικος), e os escravos.

- Termo semelhante - ἔκκλητος – Árbitro, selecionado para julgar um ponto. Pode ser uma equipe, um time. οἱ ἔκκλητοι , em Esparta e em outros lugares, um comitê de 5 cidadãos homens, escolhido para relatar sobre certas questões , X. HG 2.4.38 ; Ἀργείων ἔκκλητος ὄχλος E. Or. 612 , cf. 949 .

- Pressupostos para esta reunião de ἔκκλητος: Cidade auto governada, Cidadãos que deixem seus afazeres cotidianos para executarem uma tarefa em conjunto, Conselho de iguais – ninguém acima de ninguém, todos são iguais, mesmo que tenham funções diferentes a desempenhar.

Eclesia significa então “assembléia” no grego clássico e na versão dos Setenta. Ao nos aproximarmos do Novo Testamento vemos que a palavra é admitida por todos como tendo este significado em quase noventa lugares. Alguns contendem por assembléia, outros por um novo significado melhor descrito como a igreja universal invisível. Como podemos dizer qual é o certo? O princípio usado é dizer que o significado comum deve ser aceito em cada lugar onde fizer sentido. Só quando o significado comum não fizer sentido temos a permissão de dar-lhe um novo. Seguindo este princípio vemos que a palavra assembléia faz sentido em cada passagem contestada. Assim qualquer outro sentido deve ser rejeitado. Dizer que ela tem um novo significado em face desta evidência é seguir um caminho falso de interpretar, o que tornaria a Bíblia sem significado e poderia diminuir a responsabilidade de uma pessoa à igreja local.

O mundo grego usa ekklesía para uma assembléia popular (cf. At 19.32, 39-40). O AT e o NT dão-lhe seu sentido específico mediante o acréscimo de toú theoú ou en Christõ. Será que eles escolheram essa palavra porque ela possuía um sentido cultual? Ela denota a assembléia dos ekklètoí em cidades gregas, mas não há qualquer evidência segura de seu uso para uma sociedade cultual. A ekklesía secular oferece um paralelo formal e pode conter uma sugestão religiosa, como no oferecimento de orações, mas o uso do NT deriva do uso da LXX. Isso explica a razão pela qual o latim dá preferência a ecclesia sobre outras traduções tais como curia, civitas Dei ou convocado. O termo ekklesía possui uma história sagrada nos escritos sagrados. Ele salienta a distinção entre o cristianismo e sociedades cultuais, para as quais existem termos especiais como thíasos. Judeus helenistas são provavelmente os primeiros a aplicar o termo à igreja, dando-lhe preferência em relação a synagõgè, porque o último estava adquirindo um sentido mais restrito, e talvez por haver alguma similaridade de som entre ekklesía e o heb. qãhãl.

- Termo relacionado - ἔκκλησις – Apelo, invocação a divindade – O que se faz em uma eclesia além de decidir, arbitrar e solucionar? Apelar aos deuses.

 

Os pais apostólicos e o catolicismo primitivo - Na igreja primitiva, encontramos sinais de uma mudança no uso de adjetivos e o surgimento de especulação. Nas primeiras obras, ekklêsía é comum apenas em Hermas com suas visões da kyría, que é hagía e presbytéra, a morphè de um santo espírito (cf. Visões l.lss.). Em três ocasiões, lClemente apresenta um uso similar ao de lPe 1.1 e Tg 1.1. Inácio tem imponentes epítetos em suas epístolas, muitos deles bastante extravagantes. Em Efésios 5.5, Deus, Cristo e a igreja são apresentados aos crentes como uma entidade. Cada igreja possue um único bispo, e a palavra katholikê aparece em Esmirnenses 8.2. No Martírio de Policarpo, a igreja é santa e católica, localizada em diferentes lugares. No Didaquê, a igreja se encontra espalhada, mas há de ser reunida no reino (9.4). Temos aqui uma expressão obscura que fala do mistério mundano da igreja desempenhado pelo verdadeiro profeta (11.11). 2Clemente destaca a dimensão do mistério em 14.1. Com sua referência à preexistência da igreja, isso se vincula a especulação sobre o éon da igreja e as declarações acerca da igreja ideal, em contraste com a igreja empírica (cf. Agostinho, e a distinção posterior entre as igrejas invisível e visível).

O uso durante a história da igreja - O desenvolvimento do “catolicismo” como distinto do cristianismo primitivo é claramente aparente na área da igreja com o surgimento da especulação gnóstica e a influência do platonismo. O próprio NT não faz qualquer distinção entre uma igreja invisível triunfante e uma igreja militante visível. A igreja, como congregação individual que representa o todo, é sempre visível, e sua justiça e santidade são sempre imputadas pela fé. Lutero reconhece isso quando dá preferência ao termo “congregação” sobre “igreja” em sua tradução da Escritura. Contudo, se o ideal não deve ser contraposto à realidade, já não se deve contrapor toda a igreja à congregação local. Cada congregação representa a igreja toda, a de Corinto não menos que a de Jerusalém. O desenvolvimento de grandes organizações não altera essa verdade básica. Quando há um elemento de mudança constitucional, p. ex., com a ênfase maior em bispos e diáconos do que em dons carismáticos, isso não representa, no NT, uma mudança essencial de uma forma pneumática para uma jurídica. Tal mudança ocorre somente mais tarde quando a especulação altiva sobre a igreja atribui importância divina a desenvolvimentos históricos e assim possibilita o passo do cristianismo primitivo para o “catolicismo” primitivo e posterior.

 

CONCLUSÕES

                Após toda a análise acima, é preciso refletirmos sobre o papel da igreja local em cidades, povos, tribos, raças e línguas sejam alcançadas ou não alcançadas. Assim, precisamos levar em conta algumas questões:

                - A IGREJA NÃO SOU EU, SOMOS NÓS – Eu sozinho, faço parte da igreja. Para ser igreja tem que ser Nós. A idéia de igreja como templo do Espírito Santo e assim sendo individualmente somos este templo como Paulo afirma em I Co 3, não tem como contexto Eclesia e sim o indivíduo cheio do Espírito, fazendo menção ao Naós (Santo dos Santos – AT). Não há contexto de Eclesia aqui. Então a expressão “A Igreja sou eu” é errônea e fora do contexto bíblico, cultural e histórico.

                - FINALIDADE – Não há reunião da eclesia sem uma tarefa ou objetivo. Assim, estar na igreja não é ser igreja. Por isso deve haver requisitos para alguém fazer parte da igreja e estes são alinhados com a finalidade da existência da eclesia. Igreja é eclesia, ou seja, uma reunião com finalidade. E esta finalidade foi estabelecida pelo seu fundador, Jesus: A Grande Comissão e a Direção da Missão – Atos 1:8. Além disso, cada um dos membros da Eclesia Cristã recebeu Dons e deve exercer sua função para o progresso e desenvolvimento da igreja local. Ou seja, ninguém foi chamado à igreja somente para assistir cultos.

                - IGUAIS – Eclesia é reunião de iguais. Não há hierarquia, nem pirâmide. Só funções e tarefas a desempenhar. O trabalho da Eclesia é em equipe. Liderança sempre plural e democrática, debatendo e chegando em consenso, orando e sintonizando a vontade de Deus (Exemplo Atos 15). Mesmo que alguém faça algo diferente do outro, não o torna maior ou melhor em uma Eclesia. Isonomia é a lei na Eclesia.

                - ÁRBITROS DA PALAVRA – O termo correlato ἔκκλητος significa uma comissão formada por 5 homens cidadãos que eram convocados para arbitrar, julgar ou interpretar as leis para definir uma decisão a favor ou contra alguém ou algo. Neste sentido, a Eclesia é formada por pessoas que devem ser bons intérpretes da Palavra para poderem servir de árbitros quando questões precisarem ser decididas. Mas a decisão vem do texto para a vida e não da tradição ou vontades humanas. Cf II Timóteo 2:15; Hebreus 4:12; II Pedro 1:20 e 21

                - DEPENDÊNCIA DE DEUS – A Eclesia, diferente das associações e organizações apenas humanas, não pode decidir baseada apenas em pensamentos ou opiniões humanas. Deus deve sempre vir em primeiro. É fundamental a oração, estudo da Palavra e a busca da vontade de Deus para que as decisões sejam tomadas. Decisões baseadas em tradições, doutrinas de homens ou religiosidades não são de uma verdadeira Eclesia. No caso da igreja, é Deus (ou o Senhor) quem congrega seu povo, de modo que a igreja é a ekklêsía de Deus, que consiste de todos aqueles que lhe pertencem (cf. hólè em Atos 5.11; 15.22). A Eclesia é a ekklesía toú theoú, a Igreja de Deus.

 

 

BIBLIOGRAFIA

Dicionário teológico do Novo Testamento / Gerhard Kittel e Gerhard Friedrich; condensado por Geoffrey W. Bromiley; traduzido por; Afonso Teixeira Filho; João Artur dos Santos; Paulo Sérgio Gomes; Thaís Pereira Gomes. _ São Paulo: Cultura Cristã, 2013

Dicionário grego-português (dgp): vol. 2 / [equipe de coordenação Daisi Malhadas, Maria Celeste Consolin Dezotti, Maria Helena de Moura Neves]. - Cotia, sp: Ateliê Editorial, 2006

O sentido da Eclesia no Novo Testamento por Edward Hugh Overbey