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segunda-feira, 29 de março de 2021

Crônica de um país do “Agora vai!”

 O Brasil conta 36 anos de presidentes civis, em sua jovem democracia. Em todo este tempo temos sido um país em eterno estado de “Agora vai”. Duvida? Então aperte os cintos e venha comigo em uma jornada pelo tempo. Pronto?

            Sofremos com a morte do presidente que não foi. O presidente que todos queriam e que se agigantava como uma luz no fim do túnel, ao findar uma ditadura de 2 décadas. Mesmo não votando diretamente nele, era o mineiro gente boa que todos queriam. Agora vai! Mas ao invés de vê-lo subindo a rampa do planalto, vimos seu corpo descer à sepultura. Com ele muitas esperanças se foram. E um escritor desconhecido, coronel do maranhão, veste a faixa presidencial e contrata fiscais do povo em todo o país, enquanto anunciava planos e pacotes econômicos milagrosos mas inúteis.

            Sofremos com a morte do piloto na curva Tamburello. O ídolo dos ídolos. Todos o admiravam. Unanimidade internacional. Mesmo não sendo o maior campeão em números de títulos, mesmo sendo ranzinza e colecionando inimizades com seus colegas pilotos, era incensado pelo público. Quem não se lembra das manhãs de domingo, acordar cedo, com o café na caneca e o olho na TV, vibrando com o Beco tremulando a bandeira do Brasil? O tema da vitória popularizou-se em tudo que é canto. Quando morreu, amigos e inimigos disputavam a alça do seu caixão enquanto o país, desgostoso da Fórmula 1, chorava em prantos.

            Finalmente votamos para Presidente! O direito ao sufrágio universal nos foi negado por décadas. E agora poderemos escolher o melhor. Agora vai! Um presidente civil, que pensa como nós, vai saber o que fazer. Assim que subiu as rampas do Palácio, o alagoano colorido confiscou as poupanças de todos. Mesmo fazendo a abertura de comércio exterior, a economia foi à bancarrota, escândalos de corrupção vieram à tona e um irmão dedo duro colocou em cheque o governo do caçador de marajás, que tanto encantou o país com sua jovialidade. O povo foi pra rua e jovens com a cara pintada se tornaram o símbolo do país na época. Muitos protestos se seguiram até que o Congresso ouviu a voz das ruas. Sofremos então com o primeiro Impeachment da história. Quando ele foi deposto, nossas esperanças também foram, somando-se ao fato que no seu lugar assumiu um velho político, da velha política que fez os que os velhos políticos sempre fizeram: Nada.

            Ah, mas teve o Plano Real. Momento mágico da nossa breve história. Única coisa boa do pífio governo do mineiro de Juiz de Fora, que depois de tantos erros, acertou. Colocou um figurão nobre como Ministro da Fazenda e uma equipe de economistas formados no exterior. Veio o fim da hiperinflação! Chega de cortar zeros, chega de salário desatualizado. Chega de correr para o mercado assim que receber para o dinheiro não desvalorizar. Agora, o pobre podia comer bem. O Real era tão forte quanto o dólar! 1 por 1. Viveremos anos de fartura. Agora vai!

O figurão de família nobre, com antepassados que fizeram parte da história da proclamação da República, aproveitou a fama e se lançou candidato ao Planalto. Resultado: Venceu. Mas como a alegria de pobre dura pouco, o câmbio foi desvalorizado, a moeda caiu, empresas do povo foram vendidas a preço de banana e a chamada “herança maldita” começou com um número de milhões de desempregados que desde então e até hoje nunca mais foi solucionado. O professor catedrático ainda conseguiu se reeleger em escândalos de compra de votos a favor da mudança da constituição, pois reeleição era proibido até então. Depois de mais um mandato irregular, o sociólogo importante passou pra história como presidente vaidoso e liberal, mas que acabou com as esperanças de muitos brasileiros de ter uma vida melhor, honrando assim o legado de seu antepassado sanguinário que sugeriu a morte do Imperador Dom Pedro II.

            Uma das poucas alegrias que o brasileiro tem é a música. E uma banda da periferia de São Paulo conquistou o país. Com o nome de uma bolinha com espetos de uma planta verde, estes 4 rapazes tocavam suas músicas indecentes e com letras promíscuas. Mas estouraram de sucesso e os vendedores afirmavam com todas as letras: “É uma porcaria pra ouvir, mas uma beleza pra vender!”. Foram em todos os programas de TV e tocaram em todas as rádios, em uma época que a Internet estava apenas engatinhando no Brasil com imagens estáticas se mexendo na tela do computador. Os guarulhenses foram citados para o Grammy. Sonhavam em fazer um filme. Quem sabe um Oscar? Agora vai! Mas uma tragédia acontece e a alegria é silenciada em um acidente de avião que ceifou a vida do quarteto desbocado. E os brasileiros se viram novamente chorando a perda de algo que lhes dava esperança.

            Falando em Oscar, o Brasil sempre torceu para ter um vencedor de posse da estatueta dourada. E em 1999 o filme “Central do Brasil” concorria com ótimas chances. História sensível e uma super atriz no elenco, que também concorria ao prêmio de melhor de sua categoria. No dia da premiação, milhões de brasileiros grudaram na telinha e torciam como se fosse a final da Copa do Mundo. A gente vai ganhar. Agora vai! Mas como acontece nos anos anteriores com outros filmes e aconteceria nos anos seguintes, a estatueta foi para a mão de mais um gringo. Essa Academia não gosta de nós!

            Os anos 2000 iniciaram-se, deixando pra trás o susto do bug do milênio e a superstição da virada de século. E mal começamos a retomar nossas vidas, veio novamente a esperança no ar. Um ex-torneiro mecânico, candidato insistente da eterna oposição de esquerda radical. Aparou a barba, tirou a roupa de sindicalista e colocou terno e gravata. Acenou para todos e disse que tinha mudado. Ganhou! Finalmente chegou lá um de nós. Alguém que nos representa. Está sentado na cadeira mais importante do país uma pessoa que comeu marmita, pegou ônibus lotado, e sofreu na pele o que o brasileiro comum sofre. E sua biografia não podia ser melhor: retirante nordestino, não terminou o 1º grau, viúvo e com a perda de um dedo fazendo serão e hora extra. Ele era o espelho máximo que o brasileiro precisava. Agora vai!

            E começou bem: Fome zero, Bolsa família, prestígio nos States, a Onu aplaudiu de pé. Foi chamado de “o Cara”. Trouxe a Copa do Mundo novamente para o Brasil e algo inédito: As Olimpíadas. Tinha acesso e permissão pra falar o que bem entendesse e todo o povo encantado com seu jeito popular. Liberou empréstimos, colocou filho de pobre na universidade, e o mercado financeiro e os bancos nunca ganharam tanto dinheiro nessa época. BNDES financiando até os ingredientes para o bolo da Dona Maria, que agora virara micro empresária e gerava emprego. Era o paraíso... fiscal.

Mas o partido da estrela vermelha não contava que um deputado iria ouvir sua consciência e denunciar, incluindo a si mesmo, o maior escândalo, até então, de corrupção já visto na história brasileira. O mensalão. Descobrimos que todo o governo do ex-torneiro estava sentado em um castelo de propinas, corrupção e mortes em todas as áreas e setores deste país. Todo mundo levando sua parte pra ficar caladinho e aplaudir o camarada. Tanto esgoto que até hoje ainda fede. Tempos depois ainda descobriríamos o escândalo das empreiteiras, com construtoras que construíram o país pagando reformas de sítios e apartamentos de luxo. Até chegarmos no Petrolão e descobrirmos que a Petrobrás, maior estatal e o maior orgulho dos brasileiros, estava sendo saqueada em plena luz do dia. O molusco terminou o governo e ainda passou o bastão para uma sucessora. Mas ficou manchado para o resto da vida, e manchou a esperança de milhões de brasileiros.

            Seguimos quebrando um paradigma histórico. Uma mulher foi eleita “presidenta”. Nunca antes na história deste país isto tinha ocorrido. Quantas mulheres se viram representadas, quanta esperança e sonhos reacenderam. Agora vai! Ela era sucessora política do seu antecessor, mas não tinha o carisma, nem a biografia, e nem a habilidade política. Sorridente na frente das câmeras, ignorante com os subalternos por trás. Nem seu marido agradou. Divorciada vivia isolada e sozinha na imensidão do Planalto.

            Em 2013 teve início uma série de manifestações e protestos que cresceriam até o clímax. O início foi por causa de aumentos em tarifa de transporte público. Algumas cidades aumentaram 20 centavos. Depois outras reivindicações foram feitas, como falta de segurança pública, educação, reformas, etc. E o lema: “Não é só 20 centavos” tomou o país. Em Junho de 2013 os protestos chegam no auge quando em Brasília os manifestantes chegam a subir no teto do Congresso Nacional. Os pedidos de “Fora Presidenta” eram também visíveis. O povo sentia que “O Gigante acordou” e a esperança de dias melhores voltava para o brasileiro.

A presidenta terminou o 1º mandato mas não o segundo. A primeira mulher presidente foi a 2ª a levar impeachment. Todos seus antecessores pedalavam. Mas ela insistiu em uma pedalada a mais e isso lhe custou tudo. Pedalou para fora da história, como incompetente e mentirosa, enganando os que votaram nela, pois suas promessas de campanha daquilo que ela não iria fazer, foi exatamente o que ela fez assim que ganhou. A direita dizendo “bem feito!”. A esquerda gritando “É golpe”. As manifestações aos poucos foram diminuindo e as esperanças do brasileiro foram mais uma vez pro buraco.

            No início do 2º mandato da presidenta, uma operação da Polícia Federal teve início. Uma equipe de policiais se dirigiu a um posto de gasolina, onde funcionava um escritório em uma sobreloja. Eles obedeciam o mandato de busca e apreensão emitido por um juiz do Paraná, de 1ª instância, desconhecido até então. Ele trabalhava com um procurador do mesmo estado, cristão evangélico. Descobriu-se então um esquema ilícito, que resultou na prisão de dezessete pessoas em sete estados entre elas um doleiro que entrou pra história. Cinco milhões em dinheiro, 25 carros de luxo, jóias e obras de arte foram apreendidas. O nome escolhido para operação fazia menção do local onde estava o escritório: Operação Lava-Jato.

            Daí em diante a Lava Jato se tornou a esperança para os brasileiros e o terror para os corruptos e bandidos. A cada operação mais bandidos eram presos, mais esquemas eram desmontados e mais dinheiro voltava para os cofres públicos. Os presos, em troca de terem suas penas abrandadas, abriam o bico em delações premiadas. O que se descobriu foi o que já suspeitávamos: Políticos corruptos estavam envolvidos, cobrando e pagando propinas em todas as esferas e em muitos municípios e estados do Brasil. Rapidamente os líderes da operação ficaram conhecidos e respeitados no país todo. O juiz de 1ª instância e o procurador crente estavam em todos os jornais e revistas. Viraram celebridades. A capital da República foi mudada moralmente para Curitiba. E em Brasília, os joelhos tremiam, os arquivos eram queimados e os elos mais fracos das correntes eram mortos. A população sorria e via a esperança renascer. Agora neste país corrupto vai pra cadeia. Agora neste país a impunidade acabou. Agora vai!

            O auge da Lava jato foi a prisão do ex-presidente apelidado de molusco. O procurador crente ficou mais famoso ainda quando estampou o nome do companheiro em um slide de Power Point. Slide este que ligava todos os esquemas da Lava Jato descobertos até então a um único círculo no meio. Dentro do círculo o nome do ex-torneiro. Foi o suficiente para o juiz pedir a prisão. O país dividido que estava ficou mais polarizado ainda. Mas a fatia mais voltada à direita urrava de satisfação ao ver o espetáculo que a TV e a Internet, em todos os canais passavam 24 horas por dia o passo a passo da prisão do corrupto mor, o bandido que matou a esperança de uma nação. Enquanto que a fatia mais à esquerda gritava de ódio e pintavam um novo lema repetido à exaustão. Ele relutou mais se entregou e ficou 500 dias preso, em um esquema especial, dentro de uma sala na Polícia Federal da República de Curitiba. O juiz deu 9 anos de sentença que a turma da segunda instância aumentou pra 12 anos, até os direitos políticos do camarada foram retirados. Festa maior só no Carnaval. Mas as ruas foram tomadas de verde esperança e amarelo de alegria. Agora foi! Será?

            2018 chegou e uma oportunidade enorme apareceu. Um ex-capitão, reserva do exército, com passagens polêmicas como vereador do RJ percebeu isso 4 anos antes. E começou sozinho a fazer campanha eleitoral pelo país. A experiência de 27 anos como deputado o deixou preparado pra lidar com os esquemas, pular as barreiras e ultrapassar os obstáculos. Quando a campanha começou surgiu como candidato e automaticamente se transformou em piada na boca de todos. O baixo clero não chega lá! Quem é este radical? Defensor da ditadura e torturadores? Nem precisamos nos preocupar. Mas como o orgulho precede a queda, o capitão ganhou e se tornou o 33º presidente do Brasil. Com a promessa de fazer um governo que não fosse ideológico, dar mais liberdade para o povo e para o livre capital, a esperança voltou a reinar. Um povo cansado de promessas vazias e de escândalos de corrupção viu nele um anti-herói e votou nele pra não votar no poste do outro. Pior que tá não fica. Agora vai!

            Foi... pra pior. Mal sentou-se na cadeira o capitão se viu travando uma luta contra toda a imprensa, setores inteiros do país, e um congresso e senado desfavoráveis. Seu passado veio à tona em esquemas de rachadinha, um assessor atrapalhado que fazia depósitos escusos na conta da 1ª dama, e um filho mais sujo na corrupção que pau de galinheiro. E pra deixar claro que pior que tá fica, 2020 chega e vivemos uma pandemia de proporções colossais, morrem muitas pessoas por dia de Covid 19, um vírus que surgiu na China e tomou o mundo todo de assalto. O capitão que não tinha tanta habilidade pra governar, montou um ministério de notáveis, mas que ficaram totalmente de mãos atadas, pois não conseguem fazer nada frente ao caos e a tragédia. Pra piorar ainda contamos com o negacionismo e a demora em tomar decisões pela vacinação. E mais ainda: governadores que roubaram o dinheiro enviado para a saúde, montaram hospitais de campanha superfaturados e pasmem, compraram caixas de vinho enganados, ao invés de respiradores. Um espetáculo de horror, sangue e morte regados a máscara e álcool gel.

            Fim de 2020, a pandemia reduz e a esperança se acende novamente. Agora vai! Vamos voltar ao normal. Vamos sair de casa. Mas a pandemia avança de novo, e o Brasil vive uma segunda onda, que mata mais do que a primeira e mostra o despreparo total dos governantes que batem cabeça e falam e desfalam um contra o outro. E o povo preso em casa assistindo Corona Nacional para ouvir o ex da Fátima relatar pela milionésima vez os números de mortos. E assistir intermináveis reportagens com cadáveres e pessoas de cama escancaradas na TV em horário nobre. Até o “Show da Vida” virou “Show da morte”.

           
Ah! Quase ia me esquecendo. Sabe a Lava Jato? Acabou. O STF começou a aceitar recursos e mais recursos contra a operação. A operação foi se desmontando aos poucos. Sabe o juiz? Largou a toga pra virar ministro da Justiça. O salvador! Um super ministro. O capitão sorria que mal cabia de entusiasmo em si mesmo. Mas o juiz que era um leão na vara jurídica, se mostrou um gatinho na pasta ministerial. 1 ano e meio depois renunciou, atirando pra todo lado, mostrando sua ineficiência e culpando tudo e todos. O procurador crente se retirou da operação, levando processos e mais processos, até pelo slide de Power Point. A operação Lava Jato foi lavada e proibida de continuar. Por fim presos foram soltos e fugiram. O STF chegou a dizer que a Lava Jato era uma máfia e começou a desfazer tudo o que tinha sido feito. E achávamos que pior que tava não ficava...

As duas últimas notícias quentinhas: O molusco metralhou o STF com recurso atrás de recurso, até que conseguiu a anulação dos processos e seus direitos políticos de volta. E sabe o juiz? Foi julgado parcial e o restante dos processos voltaram para a 1ª instância e o molusco tem mais 2 séculos pela frente para recorrer solto e impune. E as esperanças do brasileiro de um país sem corrupção afundaram na lama.

2022 se aproxima e o embate do século já está anunciado: Esquerda x Direita. Rocky x Ivan Drago. Molusco x Capitão. E o país polarizado que estava, agora está quase dividido em duas nações, que podemos chamar de Estados Unidos do Brasil e República Socialista do Brasil. Onde vamos parar? O que vai acontecer? Agora vai??? Que venham as cenas do próximo capítulo, que serão devidamente anunciadas pelo ex da fátima na Vênus Platinada.

Encerrando esta nossa breve viagem pelo túnel do tempo da história deste país tupiniquim, me veio à mente um trecho de uma canção. Um grupo de rock, nascido na capital de JK, inovou cantando uma música de mais de 10 minutos. Uma crônica, como esta que está acabando neste parágrafo. E nela, um jovem com sobrenome russo canta a história de um caboclo que tinha um desejo só: “Ele queria era falar pro presidente pra ajudar toda essa gente que só faz ... sofrer”.

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