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domingo, 1 de maio de 2011

Entrevista com Nelson Bomilcar

Gente,

Como sabem eu perdi o blog anterior. E gosto muito desta entrevista com Bomilcar. Ele me conhece desde pequeno, praticamente me pegou no colo. Um homem de Deus com opiniões firmes. Um pioneiro do Louvor e adoração aqui no brasil.

Desfrutem da entrevista.

Paz

Leandro Silva
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por Ana Claudia Braun Endo

Há tempos que queríamos entrevistar o pastor, músico e compositor Nelson Bomilcar. Grande incentivador dos projetos liderados pela W4 Editora e pelo Portal Cristianismo Criativo, aonde é colunista, Nelson tem sido um daqueles amigos presentes e entusiastas de boas coisas ligadas à cultura e às artes em geral, especialmente aquelas que tenham a ver com música e brasilidade. Na entrevista a seguir ele fala sobre seu primeiro contato com o meio musical, a influência familiar, as inspirações de músicos pelo Brasil afora e a paixão pela igreja, fé, arte e música brasileira contemporânea. E também, é claro, sobre o Programa Sons do Coração, que acaba de completar 5 anos de vida e aonde atua como apresentador e desenvolve seu lado radialista. Com vocês, Nelson Bomilcar.
Cristianismo Criativo - Gostaria que você contasse um pouco sobre você e seu trabalho... Qual seu primeiro contato com a música? Quando começou a tocar e a compor?
Nelson - Falando sobre mim então: sou um brasileiro simples, que gosta de viver, que ama a família, que gosta de esporte e tem o coração esverdeado palmeirense, que gosta de gente e ter amigos, que curte arte em geral, em especial música e cinema, que ama o Brasil, sua gente, sua comida, suas praias e interior de São Paulo, que ama hoje o evangelho de Cristo, e um eterno inconformado com todo tipo de injustiça. Nesta caminhada tenho aprendido a ser marido, pai, músico, compositor, escritor, comunicador, cristão e pastor.
Meu primeiro contato com a música foi em casa, com minha mãe Laura, que era cantora da rádio São Paulo, crooner de orquestra, pianista e violonista de mão cheia. Ela trouxe a boa herança da música brasileira e internacional, de Inezita Barroso, Dorival Caymmi, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Altamiro Carrilho, Judy Garland, Sinatra, Chico Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva. Depois fui seguindo a influência do meu irmão, também músico, Roberto Bomilcar, estudando vários instrumentos e ouvindo João Gilberto, Jobim, Jorge Ben, Gil, Elis, Som Três, Zimbo Trio, Pixinguinha, Adoniran, O Quarteto, Dave Brubeck, Bill Evans, Beatles, Bob Dylan e tantos outros.
CC - O que música e arte significam pra você?
Nelson - Arte não tem definição rápida e completa. Tem uma dimensão muito ampla, quanto pessoal e intimista. Para mim é o que você aprecia e enxerga dentro de seus padrões e informações do belo e da estética. Arte é expressão, registro ou linguagem da criatividade doada pelo Criador aos homens. É expressão legítima de sentimentos, percepções, reações e convicções à luz das heranças educacionais, sociais, geográficas e estéticas de cada criador ou espectador. Música e arte, em geral, são expressões da mente, do corpo, do coração e da alma, onde estão presentes o divino e o humano. São manifestações e expressões relacionais entre quem cria e quem aprecia. Portanto, cada um reconhece ou atribui valor ou não à luz de “seus olhos, ouvidos ou emoções”. Música sempre foi um pouco do oxigênio respirado 24 horas em minha casa e continua sendo.
CC - Quais são os poetas-músicos da contemporaneidade, pertencentes à Igreja ou não, que mais inspiram você?
Nelson - Michael Card, Jorge Camargo, Gladir Cabral, Guilherme Kerr, Carlinhos Veiga, Rubem Amorese, Vandilson Morais, Daniel Maia, Gerson Borges, Stênio Március, Silvestre Kulmann, Chico Buarque, Fernando Brant, Lô e Márcio Borges, Roberto Diamanso, e os sempre contemporâneos infelizmente não mais entre nós: Sérgio Pimenta, Jorge Rehder, Keith Green, Vinícius, Mário de Andrade, Fernando Pessoa.
CC - Poderia citar uma de suas música preferidas e contar por quê?
Nelson - "Fé cega, Faca Amolada" (Milton e Ronaldo Bastos). Ela é um misto do que senti no passado - no final do regime militar - de indignação e de esperança, que sinto hoje ao ver ainda o autoritarismo e a manipulação presentes dentro da instituição-igreja, principalmente em sua liderança. E ainda resquícios num país aonde não se presta contas de nada e não existe exemplo de autoridade, ética e justiça. Reflete também um coração inquieto e esperançoso para o amanhã, pois a fé tem um grande significado e  repercussão no que sou e faço hoje. Fruto deste tempo muitas coisas  e movimentos nasceram, inclusive o trabalho da música popular cristã brasileira, com gente que balizou da fé cristã e arte para uma geração. Todo o CD "Minas" e o conteúdo do Clube da Esquina me emocionam até hoje. Junto a esta música, cito outras brotando da fé em Jesus Cristo: as músicas "Claridade", do Gladir, e "Adorador", do Jorge Camargo, e que procuro viver em minha devoção, prática e espiritualidade hoje. Amizade com Deus e com as pessoas são estes caminhos.
CC - Como a fé influencia sua arte?
Nelson - A fé, simples e profunda, complexa e misteriosa, que fortalece e fragiliza, nutre muitas vezes a criação. A arte, além de pessoas com quem convivo e convivi, é depositária destas impressões. Através dela vou deixando registrado como compreendi ou não a complexidade da vida.
Pela fé, percebo a integração contínua do Criador com sua criação. Através dela fiz uma releitura de tudo que recebi, vivi no passado, absorvi na mente e com as emoções. A fé repercute em tudo o que escrevi, musiquei, produzi e rega de forma intensa o que faço hoje. Fé continua sendo um caminho a ser descoberto em todo o seu mistério, doada ao nosso coração, que vai nos capacitando a ter certeza nas coisas que se esperam e a ter convicção de fatos que se não vêem. Se você escutar as músicas que fazia no tempo do Grupo Semente, você poderá identificar o que estou falando hoje, de forma intensa, no que toco e prego. Na arte, a fé se manifesta quando crio e quando não. Num acorde, numa melodia, numa produção longa e que exige disciplina, na integração que procuro fazer entre os músicos e que gera comunhão. No silêncio, no observar e contemplar a arte de outros, também desfruto da experiência da fé. Através da fé pude me lidar com minha humanidade e ter coragem para me expor em minha música, autorias, produções e ação pastoral. A fé me trouxe a dimensão da eternidade e da finitude de tudo que faço.
Muitos nem lembrarão do que fiz em termos de arte. Já acontece hoje comigo e com muitos que, mesmo depois de três décadas,  já são hoje ilustres desconhecidos, apesar do que fizeram de valor. Portanto, tente fazer arte na medida do possível, para alegrar primeiramente o coração do Criador, pois muitas criaturas jamais ouvirão ou verão o que você fez. Que sua arte traga alegria para seu coração também. E celebre quando alguém notar, ver, escutar, apreciar, ou for tocado por sua arte!
CC - Na sua opinião, qual o papel da arte na Igreja?
Nelson - Espelhar a maravilhosa criatividade e genialidade de Nosso Deus, dando testemunho de sua presença, para que, ao apreciá-la, possamos adorar a Deus e reconhecer o seu poder presente na vida e criatividade dos seres humanos que inspira. Para mim, ela faz parte da revelação progressiva e eterna de Deus e que ele bondosamente nos compartilha para que a desfrutemos e apreciemos em Sua companhia. Por isso, não podemos nos contentar em sermos medíocres no que fazemos para o grande Artista. A arte é caminho de conexão com outros seres humanos e pode nos ajudar a crescer e conhecer a outros. Admirando a arte podemos admirar a Deus, as pessoas e desfrutar da vida. A arte também educa, conscientiza e pode produzir mudanças. É passiva e pró-ativa. É caminho desejável para a igreja sempre! A arte é sagrada para quem faz e lugar do sagrado para quem reconhece sua forte ligação.
CC - Que sites você costuma frequentar na web? O que você indicaria para nossos leitores?
Nelson - São muitos e não somente no campo das artes e da música. Convido aos leitores então a entrarem no meu site www.nelsonbomilcar.com.br e verem ali minhas sugestões em sites de arte, adoração, música,missões urbanas, missão integral, cultura, projetos sociais, links, etc.
CC - Poderia nos contar como começou o programa Sons do Coração? Como é o dia-a-dia da gravação?
Nelson - O programa Sons do Coração foi apresentado inicialmente para a comunidade portuguesa e brasileira em Vancouver, Canadá  (1998 e 1999) pelo pastor Nelson Monteiro (casado com uma canadense e hoje em Recife), que cuidava de uma comunidade na Broadway Church. Eu co-produzia, junto com meus filhos, a parte musical. Era um programa de música brasileira que fazíamos na Multicultural Rádio, e tocávamos algumas músicas evangélicas. Era um misto de espaço cultural, saudades do Brasil e caminho evangelístico. Quando voltei para o Brasil e conversando com irmãos da Transmundial, apresentei o programa e adaptei o foco para falar sobre arte, adoração e música cristã brasileira. O espaço foi aberto pela querida rádio Transmundial e é hoje transmitido também em Portugal pela rádiobíblia www.radobiblia.org  Hoje já no seu quinto ano, o programa tornou-se o único acervo de rádio contínuo da música feita por autores, compositores, e ministérios cristãos brasileiros, que conta e canta a história destes últimos 40 anos. Tenho uma alegria enorme em divulgar o que tem sido feito por autores e músicos brasileiros, a cultura brasileira presente, e dar acesso aos que dizem (pastores, líderes, músicos, coralistas) não conhecer músicos cristãos brasileiros e seus trabalhos. Não tem mais desculpa pela ignorância, preguiça e pelo não uso de música brasileira nos cultos públicos. A rádio e a internet estão aí. É só sintonizar o Sons e seu acervo em podcasts. E agora temos o espaço do Plataforma também pela internet.
CC - E suas andanças pelo Brasil afora?
Nelson - É ambíguo o sentimento e percepção do que tenho visto. Viajo tocando em muitos congressos e encontros de música e adoração, em encontros de missão integral, em treinamentos de juventude, pregando em igrejas, dando aulas em diversos seminários e treinamentos missionários. Interajo também através da rádio com ouvintes do país inteiro. O Brasil continua sendo um grande desafio para a igreja. Nosso grande desafio continua sendo a encarnação e presença na vida e na vida de gente, com suas dores, tristezas, esperanças e alegrias. Encontramos hoje um mundo chamado gospel alienante e avassalador em nosso contexto, retalhando, distorcendo, mentindo e enganando o povo, escondendo o verdadeiro evangelho do reino. A igreja sente falta dos mestres da palavra. A Igreja está ausente dos espaços culturais e na criação. O evangelho veio redimir a cultura e as pessoas.
Precisamos nos reconciliar com nosso Deus, com nossa cultura, precisamos nos reconciliar com o povo brasileiro a quem dizemos servir, precisamos continuar fazendo arte e música, mesmo que pela marginal, com consciência de nosso papel para servir, amar, levar o evangelho, e deixar registrado em poemas, canções, partituras, pinturas, literatura, danças, artesanato, TV, teatro, cinema e tantas outras manifestações artísticas. Deixar a arte se integrar, participar, atuar constantemente  em obras de amor, socorro, misericórdia, onde a justiça de Deus é vivenciada e a dignidade do ser humano é um valor a ser preservado.
Creio que este Fórum do Cristianismo Criativo e outros eventos feitos devem fomentar e ajudar nesta conscientização e mobilização. Não só refletir, mas fazer de fato. E construirmos uma teologia das artes correta. Trabalhos como da ABU, MPC, JOCUM, JV, ISA, CC, ajudam em muito na formação espiritual e mentoria da juventude e no surgimento de artistas para lidarem com liberdade, ousadia e sabedoria na implantação do reino de Deus.
CC - Com quais compositores você mais gostou de compor, cantar, tocar, enfim, compartilhar sua arte?
Nelson - Já citei vários e sempre corro o risco de esquecer outros, pois trabalhei e trabalho ainda com muita gente. Minha caminhada e produções testemunham isto. Aqui vai um pouco do meu “clube da outra esquina”, com compositores, cantores, músicos, arranjadores, etc: Pimenta, Guilherme, Rehder, Camargo, João Alexandre, Gerson Ortega, Edy Chagas, Daniel Maia, Quico Fagundes, Arlindo Lima, Marcos Mônaco, Carla Bomilcar, Felippe e Raquel Figueiredo, Karen Bomilcar, Juliana Pimenta, Carlos e Eduardo Sider, Bruno Migotto, Marinho Lemes, Marinho Andreotti, Rogério Bocatto, Hélio Campos, Quarteto Vida, Erlon Lemos, Armandinho,  Giroux Wanziler,  Adhemar de Campos e Asaph Borba na adoração congregacional. Nas produções e nos arranjos, cito alguns com quem trabalhei ou trabalho com prazer: Maurício Caruso, César Elbert, Thiago Pinheiro, Davi Neto, Woody Carvalho, Maurício Domene, Willians Costa Júnior, Marcos Cavalcante. É bom trabalhar com amigos e bons artistas.
CC - Qual música, CD, DVD, ou livro você gostaria de dedicar e/ou indicar aos nossos leitores?
Nelson - Indico o livro-CD "Somos Um", do Jorge  Camargo; o CD "Nordestinamente", do Gerson Borges; o DVD "Casa Grande", do Gladir Cabral; o livro "Adoração, Louvor e Liturgia", do Rubem Amorese, o livro "Missão Integral e Ecologia" e todos os outros da W4 Editora e também o livro "Fé Cristã e Cultura Contemporânea", da Ultimato.
CC - Existe vida inteligente entre os artistas cristãos?
Nelson - Olha o Seginho Groisman aí gente, do Altas Horas para o Cristianismo Criativo, hehehehe. Creio que tem muita gente inteligente sim, mas a sabedoria nem sempre está com eles. Sabedoria parece que continua morando com gente humilde, ou com os “símplices” do Salmo 19. Bem, já citei vários artistas inteligentes anteriormente e não desejaria ser repetitivo. Do nosso pedaço brasilis, por exemplo, é só conhecer o trabalho em várias áreas do Rubem Amorese.  Escritor, poeta, músico e atuando em tantas vertentes da comunicação e do evangelho e sempre com qualidade e profundidade. Sendo mais abrangente e considerando pastores como poetas de palavras, cito alguns como Ricardo Barbosa, Eugene Peterson, Ariovaldo Ramos, Ed René, Karl Kepler e Élben César. Puxa, quanta gente boa!

fonte: www.cristianismocriativo.com.br

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